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quarta-feira, 24 de abril de 2013

"O Inverno do Mundo" de Ken Follett [Opinião Literária]

Título: O Inverno do Mundo
Autor: Ken Follett
Editora: Editorial Presença
Coleção: Trilogia O Século (nº2) / Grandes Narrativas (nº533)

Sinopse:
Depois do extraordinário êxito de repercussão internacional alcançado pelo primeiro livro desta trilogia, A Queda dos Gigantes, que subjugou milhares de leitores, este segundo volume vem dar continuação à viagem através do século XX e, simultaneamente, à saga de cinco famílias – de nacionalidades americana, alemã, russa, inglesa e escocesa – que polarizam a narrativa. Reencontramo-las agora no ponto em que as deixámos, ainda que seja uma segunda geração que assumirá progressivamente o protagonismo dos acontecimentos. Bem demarcadas, as personagens vão evoluindo segundo as suas crenças, ambições e aspirações, nem sempre do mesmo lado da barricada após o dramático início da Segunda Guerra Mundial. Ken Follett, incomparável contador de histórias, vai compondo o quadro global de uma forma não linear, recorrendo a situações esparsas, recriando múltiplos ambientes, acontecimentos do dia a dia, segundo a perspetiva dos diferentes atores – aristocratas, políticos, diplomatas, simples trabalhadores, militares –, configurando a totalidade do quadro como um vasto fresco que evolui a um ritmo de complexidade sempre crescente. No final temos a sensação de ter estado lá, desde a ascensão do Terceiro Reich, através da Guerra Civil de Espanha, durante a guerra feroz entre os Aliados e as potências do Eixo, o Holocausto, o começo da era atómica inaugurada em Hiroxima e Nagasáqui, até ao início da Guerra Fria.

Opinião:
É com esta obra que comprovo, mais uma vez, a mestria de Ken Follett em criar uma estória envolvente, com personagens complexas, romances apaixonantes, intrigas e ação, interligando fatos verídicos com momentos repletos de ficção. Neste segundo volume, a narrativa incide sobre os descendentes das personagens do primeiro volume, o que me deixou algo apreensiva. Honestamente, pensava que seria difícil recordar todos os nomes e relações, associando esta nova geração de personagens às cinco famílias principais, mas o autor teve o cuidado de pontuar o enredo com pequenos excertos de informação que facilitaram a minha memória e compreensão.
Abordando uma temática que sempre capturou o meu interesse – a Segunda Guerra Mundial –, o autor elabora uma notável investigação histórica, relatando os acontecimentos que lhe deram origem, as suas consequências nefastas para todo o mundo e o desfecho que alterou o rumo da história da humanidade. A conjuntura geopolítica deste período encontra-se eximiamente delineada, representando cronologicamente os acontecimentos mais importantes e diversificando o espaço físico retratado, tornando a leitura mais dinâmica e o retrato da época mais amplo e fidedigno. O leitor é levado numa viagem fascinante pelo século XX, atravessando a Inglaterra, os EUA, a Rússia e mesmo a Espanha, adquirindo, pelo caminho, toda a informação sobre a Segunda Guerra Mundial, sobre os interesses políticos e financeiros por todo o mundo.
A política é, pois, um fator indissociável desta obra, o que não constituiu um entrave à leitura, na medida em que o autor explica de uma forma bastante acessível as contendas entre a democracia, o comunismo e o fascismo. De igual modo, para quem aprecia relatos de espionagem estará bem servido com este livro: Ken Follett explora o papel determinante que a espionagem e contra-espionagem tiveram no desenlace destes eventos.
Porém, acima de tudo, este é um relato sobre pessoas, sobre o impacto que o Holocausto teve na população mundial, mas principalmente sobre os atentados à dignidade humana cometidos em prol de ideais repugnantes. O autor serve-se das suas personagens para proporcionar uma perspetiva direta do sofrimento de um país em guerra: a pobreza, a falta de recursos básicos, a violência, o terror constante, a morte que espreita inevitavelmente… É fascinante observar a forma como as personagens evoluem ao longo da narrativa, como o seu carácter é moldado pela necessidade de sobreviver ou simplesmente pelas atrocidades que foram forçados a testemunhar. Assim, verificamos concretamente as consequências que não apenas esta, mas qualquer guerra inflige ao indivíduo.
No entanto, gostaria de ter podido aceder à perspetiva japonesa, uma das mais cruciais em toda esta estória, mas que nunca é apresentada diretamente. Sem personagens japonesas que descrevessem o seu lado da guerra, principalmente o impacto da detonação das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasáqui, que inauguraram a era atómica, a mensagem apresentada pelo autor pareceu-me algo tendenciosa. Quase como se fosse algo irrelevante, utilizando o argumento que todas essas mortes pouparam vidas de cidadãos americanos. Confesso que fiquei algo desiludida com uma visão tão limitada.
Por fim, é fulcral salientar que esta obra não é um mero relato político e bélico da época, mas sim um retrato social profundo, explorando a capacidade de resiliência do ser humano perante condições inimagináveis. Este é, pois, um retrato envolvente de uma época sangrenta, de atrocidades e calamidades, mas também de uma luta incansável pelos direitos que usufruímos hoje, principalmente, pelo direito à liberdade.

2 comentários:

  1. Tenho imensa vontade de ler este livro. Adorei o primeiro volume.
    Olha há um livro chamado Sombras queimadas da Kamila Shamsie que aborda um pouco da perspectiva japonesa. Se quiseres dar uma olhadela no meu blog tenho lá a minha opinião sobre este livro.
    Boas leituras

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    1. Confesso que não conhecia esse livro, já espreitei a tua opinião no teu blogue e parece-me muito bom! Não tenho por hábito (sei lá eu porquê) ler estórias passadas no Oriente mas senti falta dessa perspetiva neste livro, podia ter sido uma mais-valia para aprofundar a narrativa... "Sombras queimadas" parece ser o que procuro, vai já para a wishlist! Muito obrigada! :D

      Boas leituras!

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