"O Inverno do Mundo" de Ken Follett [Opinião Literária]
Título: O Inverno do Mundo
Autor: Ken Follett
Editora: Editorial
Presença
Coleção: Trilogia O
Século (nº2) / Grandes Narrativas (nº533)
Sinopse:
Depois do
extraordinário êxito de repercussão internacional alcançado pelo primeiro livro
desta trilogia, A Queda dos Gigantes,
que subjugou milhares de leitores, este segundo volume vem dar continuação à
viagem através do século XX e, simultaneamente, à saga de cinco famílias – de nacionalidades
americana, alemã, russa, inglesa e escocesa – que polarizam a narrativa. Reencontramo-las
agora no ponto em que as deixámos, ainda que seja uma segunda geração que
assumirá progressivamente o protagonismo dos acontecimentos. Bem demarcadas, as
personagens vão evoluindo segundo as suas crenças, ambições e aspirações, nem
sempre do mesmo lado da barricada após o dramático início da Segunda Guerra
Mundial. Ken Follett, incomparável contador de histórias, vai compondo o quadro
global de uma forma não linear, recorrendo a situações esparsas, recriando
múltiplos ambientes, acontecimentos do dia a dia, segundo a perspetiva dos
diferentes atores – aristocratas, políticos, diplomatas, simples trabalhadores,
militares –, configurando a totalidade do quadro como um vasto fresco que
evolui a um ritmo de complexidade sempre crescente. No final temos a sensação
de ter estado lá, desde a ascensão do Terceiro Reich, através da Guerra Civil
de Espanha, durante a guerra feroz entre os Aliados e as potências do Eixo, o
Holocausto, o começo da era atómica inaugurada em Hiroxima e Nagasáqui, até ao
início da Guerra Fria.
Opinião:
É com esta
obra que comprovo, mais uma vez, a mestria de Ken Follett em criar uma estória
envolvente, com personagens complexas, romances apaixonantes, intrigas e ação, interligando
fatos verídicos com momentos repletos de ficção. Neste segundo volume, a
narrativa incide sobre os descendentes das personagens do primeiro volume, o
que me deixou algo apreensiva. Honestamente, pensava que seria difícil recordar
todos os nomes e relações, associando esta nova geração de personagens às cinco
famílias principais, mas o autor teve o cuidado de pontuar o enredo com
pequenos excertos de informação que facilitaram a minha memória e compreensão.
Abordando
uma temática que sempre capturou o meu interesse – a Segunda Guerra Mundial –,
o autor elabora uma notável investigação histórica, relatando os acontecimentos
que lhe deram origem, as suas consequências nefastas para todo o mundo e o
desfecho que alterou o rumo da história da humanidade. A conjuntura geopolítica
deste período encontra-se eximiamente delineada, representando cronologicamente
os acontecimentos mais importantes e diversificando o espaço físico retratado, tornando
a leitura mais dinâmica e o retrato da época mais amplo e fidedigno. O leitor é
levado numa viagem fascinante pelo século XX, atravessando a Inglaterra, os
EUA, a Rússia e mesmo a Espanha, adquirindo, pelo caminho, toda a informação
sobre a Segunda Guerra Mundial, sobre os interesses políticos e financeiros por
todo o mundo.
A política é,
pois, um fator indissociável desta obra, o que não constituiu um entrave à
leitura, na medida em que o autor explica de uma forma bastante acessível as
contendas entre a democracia, o comunismo e o fascismo. De igual modo, para
quem aprecia relatos de espionagem estará bem servido com este livro: Ken
Follett explora o papel determinante que a espionagem e contra-espionagem
tiveram no desenlace destes eventos.
Porém, acima
de tudo, este é um relato sobre pessoas, sobre o impacto que o Holocausto teve
na população mundial, mas principalmente sobre os atentados à dignidade humana
cometidos em prol de ideais repugnantes. O autor serve-se das suas personagens
para proporcionar uma perspetiva direta do sofrimento de um país em guerra: a
pobreza, a falta de recursos básicos, a violência, o terror constante, a morte
que espreita inevitavelmente… É fascinante observar a forma como as personagens
evoluem ao longo da narrativa, como o seu carácter é moldado pela necessidade
de sobreviver ou simplesmente pelas atrocidades que foram forçados a
testemunhar. Assim, verificamos concretamente as consequências que não apenas
esta, mas qualquer guerra inflige ao indivíduo.
No entanto,
gostaria de ter podido aceder à perspetiva japonesa, uma das mais cruciais em
toda esta estória, mas que nunca é apresentada diretamente. Sem personagens
japonesas que descrevessem o seu lado da guerra, principalmente o impacto da
detonação das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasáqui, que inauguraram a era
atómica, a mensagem apresentada pelo autor pareceu-me algo tendenciosa. Quase como
se fosse algo irrelevante, utilizando o argumento que todas essas mortes
pouparam vidas de cidadãos americanos. Confesso que fiquei algo desiludida com uma
visão tão limitada.
Por fim, é fulcral
salientar que esta obra não é um mero relato político e bélico da época, mas
sim um retrato social profundo, explorando a capacidade de resiliência do ser
humano perante condições inimagináveis. Este é, pois, um retrato envolvente de
uma época sangrenta, de atrocidades e calamidades, mas também de uma luta
incansável pelos direitos que usufruímos hoje, principalmente, pelo direito à
liberdade.
Tenho imensa vontade de ler este livro. Adorei o primeiro volume.
ResponderEliminarOlha há um livro chamado Sombras queimadas da Kamila Shamsie que aborda um pouco da perspectiva japonesa. Se quiseres dar uma olhadela no meu blog tenho lá a minha opinião sobre este livro.
Boas leituras
Confesso que não conhecia esse livro, já espreitei a tua opinião no teu blogue e parece-me muito bom! Não tenho por hábito (sei lá eu porquê) ler estórias passadas no Oriente mas senti falta dessa perspetiva neste livro, podia ter sido uma mais-valia para aprofundar a narrativa... "Sombras queimadas" parece ser o que procuro, vai já para a wishlist! Muito obrigada! :D
EliminarBoas leituras!