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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A Thousand Frames: "A Guerra dos Tronos" - 1ª Temporada


Título: A Guerra dos Tronos
Género: Fantasia épica; Drama
Criadores: David Benioff & D. B. Weiss
Adaptado de: As Crónicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin [a primeira temporada introduz personagens e eventos dos livros A Guerra dos Tronos, A Muralha de Gelo, A Fúria dos Reis]
Lançamento: 17 de Abril de 2011
Elenco: Sean Bean; Mark Addy; Nikolaj Coster-Waldau; Michelle Farley; Lena Headey; Emilia Clarke; Iain Glen; Aidan Gillen; Harry Lloyd; Kit Harington; Sophie Turner; Maisie Williams; Richard Madden; Alfie Allen; Isaac Hempstead-Wright; Jack Gleeson; Rory McCann; Peter Dinklage; Jason Momoa   



A Guerra dos Tronos é uma série de televisão que dispensa qualquer tipo de apresentações. Baseada na saga literária As Crónicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, é uma das séries mais vistas e comentadas na atualidade, foi considerada a série mais pirateada no ano 2012(1) e encontra-se presentemente nomeada para 16 Emmys(2), incluindo o prémio de Melhor Série Dramática. Apesar de muita tinta já ter corrido sobre esta série, proponho-me a fazer uma análise da mesma, refletindo acerca da primeira temporada, em termos de enredo, elenco e principais diferenças entre a série e os livros que lhe deram origem.
Enredo:
A ação inicia-se no reino de Westeros, um cenário medieval onde as estações podem durar anos e o poder é algo incerto e desejado. Ao longo de 10 episódios seguimos Eddard “Ned” Stark na sua demanda enquanto Mão do Rei Robert Baratheon, enredando-se nas intrigas de um reino à beira do colapso. Por sua vez, no continente de Essos, os jovens descendentes da Casa Targaryen planeiam reaver o trono de Westeros, envolvendo-se com os Dothraki, um povo de guerreiros temíveis. A Norte, os irmãos ajuramentados à Patrulha da Noite defendem a Muralha, uma fortificação de gelo que protege o resto do reino dos povos selvagens e, possivelmente, de uma ameaça que assinalará o final do Verão e o início de um longo Inverno.  
Dos livros originais foi retirada não só a estória principal, mas também o ecossistema político, social e filosófico bem delineado da narrativa e que é traduzido brilhantemente para o ecrã. Tal como nas obras de Martin, também a série levanta questões morais preponderantes: a luta pelo poder, o significado da vida e da morte, a impossibilidade da honra, as consequências da ambição e a estrutura de uma sociedade assente em bases precárias – questões estas que nunca são verdadeiramente respondidas. Afinal, nenhuma destas questões universais tem uma resposta definitiva e A Guerra dos Tronos retrata a jornada de um grande número de personagens nas suas tentativas de as descobrir conforme as suas circunstâncias. Por conseguinte, nada é a preto e branco, a honra não é uma verdade universal e poderá mesmo ser a origem do declínio de várias personagens.
Na verdade, rapidamente todas as personagens se vêm predicamentos bastante sensíveis. Apesar do elemento fantástico sempre omnipresente, esta é uma estória realista, palpável, acerca de uma guerra pelo poder onde as personagens efetivamente ou ganham, ou morrem. Isto é bem visível no penúltimo episódio, em que a série tomou um rumo radical, ainda que perfeitamente expectável para os fãs dos livros: a morte do seu “protagonista”. Numa sequência editada com uma beleza e ao mesmo tempo horror inusitados – sem banda sonora, enquanto Ned olha pela última vez para as suas duas filhas e aceita o seu destino – surge o ponto de viragem da narrativa, onde são testados os limites neste universo brutal. Correndo o risco de alienar a sua audiência, a série ainda assim mantém-se fiel ao clima de instabilidade que os livros oferecem.
A primeira temporada d’A Guerra dos Tronos foi construída com mestria, aproveitando o que de melhor existe numa obra extensa e complexa. É refrescante poder ver uma série como esta no panorama televisivo atual, que não tem necessidade de “estupidificar” o público, mantendo uma estória com profundidade e ainda assim adquirindo uma legião de fãs impressionante!

Elenco:
Para além do magnífico conteúdo dos livros que os produtores tiveram à sua disposição, um dos fatores que eleva esta série é sem dúvida o seu elenco. O meu entusiasmo com esta série advém principalmente de ver todas as personagens que aprendi a amar/odiar/tolerar a serem interpretadas tão bem!
Especialmente no que toca aos atores mais novos. Ainda me custa a acreditar que para Emilia Clarke (Daenerys Targaryen), Kit Harington (Jon Snow), Sophie Turner (Sansa Stark), Isaac Hempstead-Wright (Bran Stark) e Maisie Williams (Arya Stark) estas foram as suas estreias na televisão!
E não me deixem começar a falar acerca do Peter Dinklage (Tyrion Lannister) senão é que nunca mais me calo! Numa palavra: perfeição!

Principais diferenças entre a série e os livros:
É difícil numa temporada com apenas 10 episódios abarcar todos pormenores de dois livros com a dimensão de A Guerra dos Tronos e A Muralha de Gelo, sendo compreensível a necessidade de diluir algumas cenas e alterar outras em favor da narrativa geral. No entanto, apesar de por vezes trazerem algo de favorável estas mudanças podem ser irritantes para os fãs mais acérrimos dos livros.
Em primeiro lugar, as idades das personagens sofreram algumas alterações que, sendo esta uma produção televisiva em grande escala, seriam inevitáveis. Os livros retratam uma sociedade medieval sem qualquer conceito de adolescência. As raparigas são consideradas aptas para casar assim que menstruam e muitas personagens têm relações sexuais em tenra idade. No entanto, devido às leis de produção europeias, certas cenas, principalmente as relacionadas com Daenerys Targaryen (com 13 anos no primeiro livro) seriam impossíveis de retratar na televisão.(3) Por conseguinte, as personagens mais novas foram envelhecidas cerca de 2/3 anos para se adequarem aos padrões legais. Honestamente fico grata por não ter de assistir ao casamento de Khal Drogo com uma Daenerys de 13 anos. No fundo, foi uma alteração apropriada e perfeitamente compreensível.
Um dos aspetos que permanece muito vago e pouco aprofundado é a história de Westeros, a Rebelião de Robert Baratheon e os eventos que originaram a usurpação do trono aos Targaryen. Claro que é difícil transparecer no ecrã os pensamentos, sentimentos e memórias das personagens, tão facilmente descritos nos livros. Contudo, seria interessante que pelo menos os sonhos de Eddard sobre a irmã e os eventos da Rebelião de Robert fossem mais explorados, em particular a conexão entre dois personagens já falecidos dos quais dificilmente o público terá uma noção muito clara apenas pela série.
Já falei do que falta na série, agora vou abordar o que está em excesso. Não que as obras de Martin sejam propriamente púdicas, aliás existem inúmeras cenas explícitas, mas a série incorpora cenas de nudez que por vezes parecem despropositadas. Um dos exemplos mais claros será Ros, uma personagem que nem sequer existe nos livros e parece servir apenas para ouvir os monólogos das personagens masculinas. Pessoalmente até aprecio a personagem e a interpretação da atriz, acabando por servir como uma condensação das inúmeras prostitutas nomeadas nos livros, mas por vezes penso que existiriam outras maneiras de expor esta informação sem recorrer à vertente sexual.

Falando em aspetos inexistentes nos livros, a relação entre Renly Baratheon e Loras Tyrell é apenas subtilmente indiciada nos livros, ao contrário da série onde é bastante explícita. Esta alteração até me agradou bastante, pois deu mais destaque a eventos que apenas acontecem fora da ação principal do livro.


Um aspeto visual cuja ausência na série me incomodou no início foi uma das características principais dos herdeiros da Casa Targaryen. Estes, nos livros, são caracterizados como tendo olhos roxos/púrpura/violeta, o que não corresponde de todo à caracterização na série. Os produtores introduzirem a utilização de lentes de contacto no início das filmagens mas acabaram por desistir porque interferiam com as performances dos atores. A falta deste traço identificativo dos Targaryen poderá ter algumas implicações para o reconhecimento de certas personagens mais à frente na estória mas poderá ser contornado de alguma forma.


Mas nem todas as alterações visuais nas personagens podem ser más! A Osha da série é substancialmente diferente da Osha nos livros, sendo protagonizada pela atriz Natalia Tena não apenas mais nova, mas mais energética e sarcástica. Curiosamente, George R. R. Martin gostou tanto desta abordagem que afirmou que poderá considerar alterar a apresentação desta personagem nos próximos livros para se assemelhar à sua versão televisiva.(4)


Também outras personagens secundárias sofreram algumas alterações. Shae, a prostituta envolvida com Tyrion, adquire um novo passado na série: em vez de ser uma simples prostituta de Westeros como nos livros, na série é retratada como proveniente das Cidades Livres, de forma a explicar o sotaque estrangeiro da atriz Sibel Kekilli, que nasceu na Turquia e viveu na Alemanha.(4) Por outro lado, a ausência da personagem Mya Stone, uma dos muitos descendentes bastardos do Rei Robert, que acompanha Catelyn Stark na subida ao Ninho da Águia (que por sua vez é retratado de uma forma diferente na série do que é nos livros). Não que esta personagem seja particularmente importante (pelo menos para já) mas gosto da sua personalidade e das interações que vai tendo com algumas personagens principais nos livros.

No fundo, seria impossível criar uma série televisiva com tantos detalhes; aspetos como flashbacks, personagens e estórias secundárias têm de ser diluídas ou mesmo eliminadas para compensar a narrativa principal. Mas A Guerra dos Tronos mantém-se bastante fiel ao seu conteúdo original, e isso, associado ao elenco sublime, torna esta série uma verdadeira delícia para os fãs!
Balanço final: 9/10
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Fontes:

8 comentários:

  1. só há pouco tempo é que comecei a ver a série e ainda vou a meio da primeira temporada mas do que vi concordo contigo em algumas das questões que mencionaste, nomeadamente a questão das idades.

    Boa review da temporada :)

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    1. Obrigada :)
      Sim, a questão das idades foi uma alteração sensata e compreensível. Espero que continues a seguir a série, vale a pena ;)

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    2. Vou continuar, sim senhora ;) queria era conseguir ler os livros antes de cada uma das temporadas. Espero conseguir ;)

      Bjs

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    3. Ainda falta muito para a 4ª temporada por isso acho que consegues na boa :)

      Bjs

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  2. Acho excelente esta nova rubrica! :D
    Recebi o primeiro livro desta Saga no meu aniversário e foi dos que mais quis ler este ano, mas tinha muitos em lista de espera, pelo que ainda não o li!
    Mal leia tenho de ver a série! *-*

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    1. Ai tens que ler, mas prepara-te para ficares viciada xD
      Atenção que a 1ª temporada da série corresponde ao 1º e 2º livro em PT por isso lê os 2 antes de veres se não quiseres spoilers :)

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    2. E tem alguns pormenores do 3º livro também...

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    3. Ahah! Sim, acho que quando começar não vou conseguir parar de tão viciada que vou ficar!! *-*
      Ah, não sabia! Obrigada pela informação! A série vai ter de esperar um bocadinho! :P
      Beijinhos! *

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