"A Cidade dos Anjos Caídos" de Cassandra Clare [Opinião Literária]
Título: A Cidade dos Anjos Caídos
Autora: Cassandra Clare
Autora: Cassandra Clare
Editora: Planeta
Coleção: Caçadores de
Sombras (nº4)
Sinopse:
A Guerra Mortal acabou e Clary Fray está de
regresso a casa, em Nova Iorque, entusiasmada com o que o futuro lhe reserva.
Está em treino para se tornar numa Caçadora de Sombras e saber usar o seu poder
único e a mãe vai casar-se com o amor da sua vida.
Os Habitantes-do-Mundo-à-Parte e os Caçadores
de Sombras estão, finalmente, em paz. E, acima de tudo, Clary já pode chamar
«namorado» a Jace. Mas tudo tem um preço.
Anda alguém a assassinar os Caçadores de
Sombras que pertenciam ao círculo de Valentine, provocando tensões entre os
Habitantes-do-Mundo-à-Parte e os Caçadores de Sombras, o que pode levar a uma
segunda guerra sangrenta. O melhor amigo de Clary, Simon, não pode ajudá-la.
Opinião:
A Cidade dos
Anjos Caídos é o volume introdutório de uma nova trilogia que compõe a aclamada
saga Caçadores de Sombras. Quem, como eu, esperava uma conclusão derradeira com
o final de A Cidade de Vidro, poderá
sentir-se algo defraudado com esta continuação. Afinal, estando a estória concebida
originalmente completa, era realmente necessário este novo volume?
Não, na verdade não era. Aliás, o início
deste livro deixou-me totalmente apreensiva: parecia uma autêntica novela
mexicana! Clary e Jace, cuja relação parecia estar bastante solidificada no
final do volume anterior, apresenta-se aqui como uma ligação emocional bastante
frágil, com uma ausência de comunicação exasperante e que poderia ser
completamente evitada. Na verdade, se o amor que os une é assim tão forte,
porque motivo não pode Jace simplesmente confessar o que o preocupa (neste
caso, os pesadelos onde se vê a si próprio como um assassino)? Confesso que
começa a ser cansativo aturar os comportamentos bipolares de Jace e as atitudes
lamechas de Clary.
Ainda assim, as personagens Clary e Jace abandonam
o seu protagonismo em prol das personagens mais secundárias que neste volume
ganham relevo. Um destaque especial para Simon, do qual finalmente vemos uma
evolução em personalidade e temperamento. Com uma atitude mais empreendedora e
menos vulnerável, Simon toma as rédeas da sua vida e deixa de depender tanto
dos outros, tornando-se no ponto fulcral da narrativa. Porém, até nesta
personagem a autora resolveu descarregar a sua obsessão por relações amorosas
complicadas, criando um triângulo amoroso completamente desnecessário. Simon,
muito incaracteristicamente, é obrigado a balançar duas relações ao mesmo tempo,
com a lobisomem Maia e com a caçadora de sombras Isabelle. A primeira torna-se
numa representação da importância do perdão, com a introdução do seu
ex-namorado que a havia agredido, transformado e abandonado – uma estória paralela
que merecia mais destaque. Já Isabelle usufrui de uma caracterização que
adorei, na medida em que conseguimos atravessar o muro de força e coragem que esta
personagem ergue para esconder as suas verdadeiras fragilidades e amarguras,
assim como a sua necessidade descomunal de amor.
Ainda na componente romântica desta obra,
também Alec e Magnus são afetados pela introdução de uma personagem (já
conhecida para os leitores da trilogia Caçadores de Sombras – As Origens), a
poderosa vampira Camille. Os ciúmes de Alec têm a sua piada, mas o que mais
apreciei foi a luta interior e a tristeza de Magnus perante a inevitável mortalidade do seu amado. Magnus perde um pouco do seu humor e charme
característicos para ganhar uma maior profundidade enquanto personagem.
Assim, a primeira metade desta obra
revelou-se uma leitura estagnada, sem grande ação e repleta de ideias e
momentos repetitivos. Mesmo a componente que me parecia mais interessante (o
treino de Clary como caçadora de sombras) é completamente descurada e relegada
para segundo plano.
Por fim, no último terço do livro é que tudo
culmina da melhor forma. Antigos inimigos regressam para exercer a sua vingança
e um novo perigo ameaça o universo que Cassandra Clare criou. O ritmo torna-se
alucinante e comecei a entusiasmar-me verdadeiramente com esta leitura. Nos
últimos capítulos tornou-se impossível pousar o livro! A trama pareceu-me mais
ousada e mesmo sendo o final algo previsível (afinal, a estória tem de render
para os próximos volumes não é?), consegui apreciar a mitologia que tanto adoro
nesta saga.
No fundo, penso que o único motivo plausível para a
existência desta nova trilogia será o aproveitamento da fama que a autora ganhou,
mesmo que por vezes a qualidade seja posta em causa. É uma pena que este volume
não tenha sido estruturado devidamente, pois algumas personagens estão tão bem
conseguidas que mereciam ser mais estimadas. Espero que nos próximos volumes a
autora aposte num enredo bem construído e não deixe ruir o universo fantástico
que criou!
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