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sábado, 28 de dezembro de 2013

"A Cidade dos Anjos Caídos" de Cassandra Clare [Opinião Literária]





Título: A Cidade dos Anjos Caídos
Autora: Cassandra Clare
Editora: Planeta
Coleção: Caçadores de Sombras (nº4)





Sinopse:

A Guerra Mortal acabou e Clary Fray está de regresso a casa, em Nova Iorque, entusiasmada com o que o futuro lhe reserva. Está em treino para se tornar numa Caçadora de Sombras e saber usar o seu poder único e a mãe vai casar-se com o amor da sua vida.

Os Habitantes-do-Mundo-à-Parte e os Caçadores de Sombras estão, finalmente, em paz. E, acima de tudo, Clary já pode chamar «namorado» a Jace. Mas tudo tem um preço.

Anda alguém a assassinar os Caçadores de Sombras que pertenciam ao círculo de Valentine, provocando tensões entre os Habitantes-do-Mundo-à-Parte e os Caçadores de Sombras, o que pode levar a uma segunda guerra sangrenta. O melhor amigo de Clary, Simon, não pode ajudá-la.

Opinião:

A Cidade dos Anjos Caídos é o volume introdutório de uma nova trilogia que compõe a aclamada saga Caçadores de Sombras. Quem, como eu, esperava uma conclusão derradeira com o final de A Cidade de Vidro, poderá sentir-se algo defraudado com esta continuação. Afinal, estando a estória concebida originalmente completa, era realmente necessário este novo volume?

Não, na verdade não era. Aliás, o início deste livro deixou-me totalmente apreensiva: parecia uma autêntica novela mexicana! Clary e Jace, cuja relação parecia estar bastante solidificada no final do volume anterior, apresenta-se aqui como uma ligação emocional bastante frágil, com uma ausência de comunicação exasperante e que poderia ser completamente evitada. Na verdade, se o amor que os une é assim tão forte, porque motivo não pode Jace simplesmente confessar o que o preocupa (neste caso, os pesadelos onde se vê a si próprio como um assassino)? Confesso que começa a ser cansativo aturar os comportamentos bipolares de Jace e as atitudes lamechas de Clary.

Ainda assim, as personagens Clary e Jace abandonam o seu protagonismo em prol das personagens mais secundárias que neste volume ganham relevo. Um destaque especial para Simon, do qual finalmente vemos uma evolução em personalidade e temperamento. Com uma atitude mais empreendedora e menos vulnerável, Simon toma as rédeas da sua vida e deixa de depender tanto dos outros, tornando-se no ponto fulcral da narrativa. Porém, até nesta personagem a autora resolveu descarregar a sua obsessão por relações amorosas complicadas, criando um triângulo amoroso completamente desnecessário. Simon, muito incaracteristicamente, é obrigado a balançar duas relações ao mesmo tempo, com a lobisomem Maia e com a caçadora de sombras Isabelle. A primeira torna-se numa representação da importância do perdão, com a introdução do seu ex-namorado que a havia agredido, transformado e abandonado – uma estória paralela que merecia mais destaque. Já Isabelle usufrui de uma caracterização que adorei, na medida em que conseguimos atravessar o muro de força e coragem que esta personagem ergue para esconder as suas verdadeiras fragilidades e amarguras, assim como a sua necessidade descomunal de amor.

Ainda na componente romântica desta obra, também Alec e Magnus são afetados pela introdução de uma personagem (já conhecida para os leitores da trilogia Caçadores de Sombras – As Origens), a poderosa vampira Camille. Os ciúmes de Alec têm a sua piada, mas o que mais apreciei foi a luta interior e a tristeza de Magnus perante a inevitável mortalidade do seu amado. Magnus perde um pouco do seu humor e charme característicos para ganhar uma maior profundidade enquanto personagem.

Assim, a primeira metade desta obra revelou-se uma leitura estagnada, sem grande ação e repleta de ideias e momentos repetitivos. Mesmo a componente que me parecia mais interessante (o treino de Clary como caçadora de sombras) é completamente descurada e relegada para segundo plano.

Por fim, no último terço do livro é que tudo culmina da melhor forma. Antigos inimigos regressam para exercer a sua vingança e um novo perigo ameaça o universo que Cassandra Clare criou. O ritmo torna-se alucinante e comecei a entusiasmar-me verdadeiramente com esta leitura. Nos últimos capítulos tornou-se impossível pousar o livro! A trama pareceu-me mais ousada e mesmo sendo o final algo previsível (afinal, a estória tem de render para os próximos volumes não é?), consegui apreciar a mitologia que tanto adoro nesta saga.

No fundo, penso que o único motivo plausível para a existência desta nova trilogia será o aproveitamento da fama que a autora ganhou, mesmo que por vezes a qualidade seja posta em causa. É uma pena que este volume não tenha sido estruturado devidamente, pois algumas personagens estão tão bem conseguidas que mereciam ser mais estimadas. Espero que nos próximos volumes a autora aposte num enredo bem construído e não deixe ruir o universo fantástico que criou!


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