"A Cidade das Cinzas" de Cassandra Clare [Opinião Literária]
Título: A Cidade das Cinzas
Autora: Cassandra
Clare
Editora: Planeta
Coleção: Caçadores de
Sombras (nº2)
Sinopse:
Clary Fray só queria que a sua vida voltasse
ao normal. Mas o que é normal quando se é um Caçador de Sombras? A mãe em
estado de coma induzido por artes mágicas, e de repente começa a ver
lobisomens, vampiros, e fadas?
A única hipótese que Clary tem de ajudar a
mãe é pedir ajuda ao diabólico Valentine que, além de louco, simboliza o Mal e,
para piorar o cenário, também é o seu pai.
Quando o segundo dos Instrumentos Mortais é
roubado o principal suspeito é Jace, que a jovem descobriu recentemente ser seu
irmão. Ela não acredita que Jace de facto possa estar disposto a abandonar tudo
o que acredita e aliar-se ao diabólico pai Valentine… mas as aparências podem
iludir.
Opinião:
A trama
adensa-se neste segundo volume de uma saga de fantasia urbana que me cativou
desde a primeira página. A mitologia paranormal é alargada, na medida em que
exploramos o domínio das Fadas, seres que não mentem mas apreciam distorcer a
verdade e manipular os desejos mais obscuros das personagens.
Os
protagonistas, Jace e Clary, lidam com as revelações surpreendentes do volume
anterior, principalmente com a incapacidade para se manterem afastados mesmo
sabendo a inviabilidade da ligação amorosa que os une. Por conseguinte, o
início deste livro é algo passivo, focando-se no debate emocional das
personagens que enfrentam os seus demónios interiores.
Jace
mantém-se a personagem mais cativante de toda a estória. A sua infância
conturbada endureceu-o mas o seu carácter sarcástico, arrogante e carismático
é, neste volume, sobreposto pela sua luta interior entre os seus sentimentos e
o seu lado racional. Assim, temos a oportunidade de vislumbrar o seu lado mais
emotivo, mais humano. Clary torna-se mais interventiva, sendo que ambos
descobrem capacidades peculiares muito interessantes e úteis para a sua
demanda.
As
personagens secundárias também emergem como partes essenciais deste contexto.
Simon é uma das personagens que adquire mais relevo, um novo vigor e, por isso,
tornou-se mais fácil de simpatizar com este jovem apaixonado que, apesar das
suas inseguranças, se mostra forte e determinado. Outro aspeto que apreciei
bastante em relação à caracterização de personagens foi o aprofundar da relação
entre Alec e Magnus, um casal com uma dinâmica diferente e peculiar, com
avanços e recuos, pela qual dou por mim a torcer com maior motivação do que
pelo triângulo amoroso no centro da estória. Novos intervenientes surgem, como
Maia, uma jovem lobisomem, que prometem trazer ainda mais dinâmica à narrativa.
Por outro lado, a personagem de Isabelle, para meu desgosto, é relegada para
segundo plano.
A escrita da autora permanece simples e
fluída, sendo que a narrativa, após o início mais vagaroso, adquire um ritmo
alucinante, repleto de ação e acontecimentos que se sucedem freneticamente. Contudo,
por vezes são introduzidos elementos que não se coadunam com o desenrolar do
enredo. As atitudes de algumas personagens por vezes deixaram-me perplexa, como
por exemplo a decisão de Simon regressar ao Hotel Dumort, com consequências
trágicas, ou a maneira demasiado intuitiva de Clary resolver as dificuldades
que encontra. Por vezes, senti que a narrativa adquiria contornos forçados e
faltava alguma lógica ou contextualização destas ações.
Por fim,
este segundo volume peca em comparação com o primeiro, com algumas falhas no
enredo que impediu o meu envolvimento total na estória. Apesar de tudo, gostei
bastante do elemento misterioso que se mantém permanentemente à volta do
passado de Jace, a força motriz de toda a saga. Certas pistas subtis levaram-me
a formular algumas teorias e estou completamente ansiosa por ler o próximo
volume para descobrir o rumo da estória e as potenciais reviravoltas que
surgirão. Em suma, apesar de algo previsível, esta foi uma leitura aprazível e
estimulante.
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