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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

"O Pacto - O Crime de Ter Nascido" de Gemma Malley [Opinião Literária]


Título: O Pacto – O Crime de Ter Nascido
Autora: Gemma Malley
Editora: Editorial Presença
Coleção: The Declaration (nº1) / Noites Claras (nº1)

Sinopse:
Planeta Terra, ano 2140. A ciência oferece aos humanos a possibilidade de se tornarem imortais, mas, dada a escassez de recursos, a imortalidade só é garantida à custa da renúncia à descendência. O Pacto é o compromisso que sela tal decisão. Quebrá-lo é ir contra as leis da Natureza, e as consequências são aterradoras. Anna conhece-as demasiado bem. É uma Excedente, uma criança que não deveria ter nascido. Desde bebé que está em Grange Hall, a instituição que prepara todos os Excedentes para o terrível destino que os espera no mundo exterior. Mas um dia recebe a visita de Peter, um jovem Excedente que vem revolucionar para sempre a sua visão de si própria e do mundo…

Opinião:
Apesar de representar uma estória distópica dirigida a um público juvenil, este livro encerra um enredo bem delineado, capaz de entreter os mais jovens e fornecer aos adultos uma narrativa complexa, profunda e reflexiva. Através de uma premissa bastante atual: a assustadora visão de uma sociedade futura em que os problemas ambientais dominam a vida de todos, torna-se uma espécie de ensaio algo filosófico acerca do medo da morte e do que abdicaríamos pela imortalidade.
A narrativa inicia-se no ano de 2140, em Grange Hall, uma instituição que praticamente opera como campo de concentração para crianças nascidas fora do Pacto. Num mundo em que os recursos naturais estão prestes a esgotar, ter um filho constitui um crime gravíssimo, um ato egoísta na medida em que estes “Excedentes” nascem apenas para retirar o lugar no mundo que apenas se destina aos “Legítimos” – aqueles que tomam a medicação da Longevidade destinada a afastar a morte. Toda esta mentalidade é verdadeiramente repugnante. A isto junta-se o relato de Anna, uma Excedente em Grange Hall, que descreve as revoltantes injustiças e a falta de humanidade e dignidade que as paredes deste local encerram.
Anna é uma excelente protagonista, uma vez que podemos constatar a sua grande evolução à medida que a estória evolui. Inicialmente, graças à lavagem cerebral de que foi vítima, o seu único objetivo de vida é apenas se tornar “Útil” – basicamente um eufemismo para escravo dos “Legítimos” – de forma a mitigar a terrível afronta que cometeu – o seu nascimento! Contudo, quando surge Peter, um jovem misterioso e determinado, a estória rapidamente adquire outro fôlego, revelando uma conspiração intrincada e complexa. A relação entre Anna e Peter transparece alguns lugares comuns normalmente associados ao típico romance na literatura juvenil, o que a torna um pouco monótona.  
Para além de abordar o eterno dilema – Ciência vs. Natureza – e as suas possíveis consequências alarmantes na sociedade atual e futura, esta obra levanta questões pertinentes acerca da verdadeira essência do ser humano em situações de grande adversidade. Fica no ar a pergunta: Será legítimo escolher o aliciante poder da imortalidade em detrimento da possibilidade de ter descendência? Será a eternidade capaz de colmatar a ausência do riso de uma criança, da novidade e frescura da juventude?

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