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domingo, 24 de novembro de 2013

"Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley [Opinião Literária]

Título: Admirável Mundo Novo

Autor: Aldous Huxley

Editora: Antígona

Sinopse:

A famosa distopia de Aldous Huxley sobre uma sociedade totalitária do futuro, regida pela tecnologia e pelo materialismo e sob a máscara da democracia e da felicidade.

“Admirável Mundo Novo" é uma parábola fantástica sobre a desumanização dos seres humanos. Na utopia negativa descrita no livro, o Homem foi subjugado pelas suas invenções. A ciência, a tecnologia e a organização social deixaram de estar ao serviço do Homem; tornaram-se os seus amos. Desde a publicação deste livro, o mundo rumou a passos tão largos na direcção errada que, se eu escrevesse hoje a mesma obra, a acção não distaria seiscentos anos do presente, mas somente duzentos. O preço da liberdade, e até da simples humanidade, é a vigilância eterna. 

Opinião:

Este clássico distópico retrata uma sociedade futura onde o progresso científico tomou as rédeas da civilização e já nada se assemelha ao que conhecemos hoje em dia. O ser humano é criado em instalações científicas e condicionado biológica e psicologicamente desde o seu primeiro momento de vida para cumprirem uma determinada função. A hierarquia social subsiste através de um sistema rígido de castas, com características bem definidas que são implantadas e recalcadas nos indivíduos desde cedo. Desde manipulações químicas e genéticas nos embriões, à própria utilização de mensagens subliminares durante o sono das crianças, o governo assegura assim a existência de mão-de-obra compatível com cada função e assume o seu poder como uma verdade inquestionável.

Elimina-se o amor em detrimento da desinibição sexual, a monogamia dá lugar à poligamia e o conceito de família dissolve-se na busca incessante pela satisfação das necessidades fisiológicas do ser humano. Eliminam-se os valores morais e religiosos, encoraja-se a procura de entretenimento em atividades recreativas e assegura-se a felicidade inconsciente através da toma diária de uma droga. E, consequentemente, eliminam-se também quaisquer fontes de emoções, consideradas inúteis e aberrantes.

É este o arquétipo social ideal que a obra apresenta: não existe qualquer sentimento de injustiça social, não há conflitos ou reivindicações, o povo vive feliz e contente por fazer parte de uma máquina bem oleada, sem questionar a sua existência. Aliás, como poderiam reclamar quando foram programados para desejar esta mesma vida e nada mais?

Não é esta uma perspetiva assustadora? A ideia que podemos ser tão facilmente manipulados para nos submetermos a ideais pré-concebidos e regermos as nossas vidas segundo as convenções sociais. Mas não é precisamente isto que acontece já nos dias de hoje? Não somos nós bombardeados constantemente pelos media com imagens e mensagens subliminares acerca do que devemos comprar, vestir, comer, usar, fazer? Será que as nossas vidas são assim tão livres de influências externas como pensamos?

Apesar de pura ficção, não posso deixar de considerar este livro como uma visão profética. Mal posso acreditar que foi escrito em 1931! É assustadoramente atual e não augura nada de bom para o futuro da humanidade. No fundo, Aldous Huxley formula um aviso, um apelo à humanidade para se acautelar diante das consequências nefastas de um “progresso” científico levado ao extremo.

Uma das poucas desilusões nesta obra foi o leque de personagens apresentadas. Não consegui estabelecer empatia com nenhuma, faltou algo na caracterização e acabei por me desligar um pouco das personagens para me concentrar no desenvolvimento da ação. Na minha opinião, as personagens aqui são meros veículos para transmitir ideias, utilizadas como peões nas jogadas brilhantes que o autor executa com este enredo intemporal.

O próprio final foi um dissabor. Senti falta de algo mais pujante, mas este é provavelmente o desenlace que se coaduna realmente com a verdadeira natureza da humanidade. Esta é sem dúvida uma obra impressionante, que se mantém muito relevante na atualidade. Afinal, talvez não falte assim tanto para chegarmos a este Admirável Mundo Novo!

8 comentários:

  1. Todas as obras que li até agora deste género (distópico) têm qualquer coisa, lá está, de profético. Acho que estes autores compreenderam que a humanidade só pode piorar...É assustador.

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    1. Precisamente. Acabei de ler este livro e fiquei literalmente arrepiada!

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  2. Fiquei muito impressionada com a review que fizeste do livro! ;) fiquei bem curiosa para o ler!

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  3. Aqui está um clássico que ainda não li mas que não vai falar no próximo ano. Adorei ler a tua review, acho que vou gostar bastante do livro. Beijos

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    1. Obrigada, também acho que será um livro que certamente gostarás! Apela bastante à reflexão, é ligeiramente perturbador mas é de leitura obrigatória, sem dúvida!
      Beijinhos*

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  4. É um livro que quero muito ler..
    Adorei a opinião e fiquei com mais curiosidade de ler o livro..
    beijinhos*

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    1. Obrigada! Lê, é qualquer coisa de especial :)
      Beijinhos*

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