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quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

"A Metamorfose" de Franz Kafka [Opinião Literária]


Título: A Metamorfose
Autora: Franz Kafka
Editora: Relógio D’Água

Sinopse:
“Quando Gregor Samsa despertou uma manhã depois de um sono intranquilo, encontrou-se sobre a sua cama convertido num monstruoso insecto.” Esta frase, que inicia A Metamorfose, é uma das mais conhecidas da literatura universal. Com ela, Kafka abre a porta ao mundo de Samsa, um trabalhador como qualquer outro que sofre a tragédia de se transformar num insecto da noite para o dia. A negação da aceitação dessa condição, o seu desejo de lutar contra ela, apesar das suas limitadas condições físicas, levam-no a um estado de terrível angústia, levada ao extremo pela impotência perante o facto.

Opinião:
Em A Metamorfose, a ação desenvolve-se à volta de Gregor Samsa, um homem que acorda transformado num insecto. Contudo, esta transformação é apenas um pretexto para introduzir o conflito central da ação: a precariedade da condição humana, a despersonalização da pessoa em virtude da sua instrumentalização.
Kafka produz neste livro uma brilhante análise do comportamento humano, descrevendo as reações da família de Gregor perante a sua nova condição: a repulsa, o medo, a ingratidão, a revolta perante a destruição da sua rotina, dos seus padrões de realidade e da encenação de uma vida perfeita. Os pais de Gregor e até mesmo a sua irmã chegam ao ponto de o tratar como um verdadeiro insecto, ignorando que até há pouco tempo era seu filho e irmão. Mesmo atualmente a nossa sociedade se insere neste contexto: o que difere da normalidade é muitas vezes objeto de repugnância, isolamento e incompreensão social.
A metamorfose descrita nesta estória não se traduz apenas na transformação de Gregor num insecto, a verdadeira metamorfose estende-se ao seu seio familiar. O seu pai abandona a apatia e volta a trabalhar, a sua irmã desperta da sua clausura e arranja um emprego e a família começa a alugar quartos na sua casa para se sustentarem. E assim nos apercebemos da única função que Gregor tinha na sua família: o seu sustento. Este é, por conseguinte, o ponto fulcral da narrativa: a exploração do ser humano, que apenas é considerado importante se for capaz de produzir/trabalhar. Esta continua uma questão preponderante na atualidade, na medida em que por vezes focamos o vínculo puramente económico, inferiorizando as pessoas, tratando-as como verdadeiros insectos.
Mais ainda, Gregor passa das preocupações físicas da sua transformação para as reflexões psicológicas e sentimentais acerca da sua nova condição. Apercebendo-se do fardo que é para a sua família e a repulsa que lhes provoca, Gregor inevitavelmente perde a força de viver, desvanecendo-se num misto de tristeza e resignação, culminando num desenlace final surpreendente.
Esta é uma obra que se lê num fôlego, uma leitura surpreendentemente fácil para um livro tão relevante, que prima pela mensagem que encerra nas suas páginas, uma parábola que parece demasiado grandiosa para caber num livro tão pequeno.

2 comentários:

  1. Olá Mónica,
    Li a metamorfose há muito anos e confesso que ainda hoje quando me lembro me dá uma certa "repulsa". Admito que está muito bem escrito e talvez por isso mesmo, este livro marcou-me imenso e sei que nunca o conseguirei reler nem dizer que gostei.

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    1. É uma leitura psicologicamente bastante pesada e deixa qualquer um revoltado. Mas foi precisamente por isso que gostei tanto, talvez porque retrata sem pudor o lado pior da humanidade e eu gosto de livros assim. Mas é preciso estar com disposição para ler livros assim...

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