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terça-feira, 30 de julho de 2013

"Um Cappuccino Vermelho" de Joel G. Gomes [Opinião Literária]

Título: Um Cappuccino Vermelho
Autor: Joel G. Gomes
Editora: Edição de autor

Sinopse:
As pessoas que conhecem Ricardo Neves dividem-se em dois grupos: os que o conhecem como autor de policiais e os que o conhecem como assassino profissional.
Ricardo sempre cuidou para que estas duas facetas da sua vida não misturassem. Tudo se complica quando recebe uma lista de alvos demasiado próximos do seu mundo de escritor. A colisão torna-se inevitável e Ricardo não tem como a impedir.

João Martins é um escritor com prazos para cumprir e sem ideias para desenvolver. Até que tem a ideia de escrever sobre um escritor que é também assassino profissional.

A surpresa acontece quando pessoas à sua volta começam a morrer tal e qual ele descreve no seu livro. A dúvida surge de imediato: estarão as mortes a acontecer porque ele as escreve ou será ele um mero narrador de eventos predestinados a acontecer?

Opinião:
Esta é uma estória com uma premissa interessante, apesar de não ser propriamente original. Apreciei a estrutura bastante dinâmica, em que a intriga encerra várias dimensões, umas dentro das outras. O autor explora isto de uma maneira complexa e intrigante, podendo ser algo confuso.
Neste contexto, existe uma constante alternância de perspetivas bastante distintas. Por um lado surge Ricardo, um assassino impiedoso, frio, arrogante e egocêntrico, que valoriza o seu trabalho acima de tudo. Por outro lado, temos João, um escritor dedicado à sua arte, cuja sanidade começa a ser questionada quando aquilo que escreve se torna realidade. Ambos são personagens credíveis e interessantes, ainda que por vezes as tenha sentido um pouco unidimensionais.
O escritor retrata bem as idiossincrasias do quotidiano português, apesar de carecer nas descrições do mundo que rodeia estas personagens. Acredito que com a adição de mais pormenores acerca do ambiente seria possível consolidar toda a ação e situar melhor o leitor. Pelo contrário, as descrições exaustivas de certas rotinas (a história do café, as refeições de Ricardo) são dispensáveis. Estas passagens necessitavam de um ritmo mais rápido, enquanto as cenas de ação e os homicídios beneficiariam de uma maior descrição e detalhes para potenciar a emoção e o suspense.
A escrita, por sua vez, é bastante simples e acessível, algo cinematográfica e sem floreados ou subterfúgios. Gostei deste aspeto, desta escrita direta e crua que torna a estória bem mais sombria. No fundo, foi uma leitura bastante fluída, aprazível mas que carece alguns pontos-chave para se tornar memorável. 

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