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sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Perdidos" de Rute Canhoto [Opinião Literária]

Título: Perdidos
Autora: Rute Canhoto
Editora: Euedito
Coleção: Trilogia Perdidos (nº1)

Sinopse:
Marina, de 17 anos, leva uma vida monótona e confortável, centrada no objetivo de ter boas notas para entrar na universidade. Findas as férias de verão, tem início um novo ano letivo que se revela repleto de novidades, entre elas Lucas. A misteriosa figura do aluno desperta-lhe atenção, apesar da aura obscura que o rodeia. Mais tarde, Joshua junta-se à turma e um turbilhão de sentimentos contraditórios assola Marina, deixando-a confusa e sem saber que caminho seguir. E se fizer a escolha errada? 
Em simultâneo, o cosmos da rapariga fica completamente virado do avesso com uma série de inexplicáveis acidentes, que parecem querer colocar um ponto final na sua existência. Afinal, o que se estará a passar? A resposta será uma revelação inesperada, que dará a conhecer ao mundo os Perdidos.
Este é o primeiro volume da trilogia Perdidos, uma série na qual coração e razão entram em conflito. Nem sempre o que gostaríamos de ter é o melhor para nós. Mas e se o que nos dizem não ser bom para nós, é exatamente aquilo de que precisamos? Viver implica correr riscos, demasiado grandes às vezes.

Opinião:
Este é um início promissor para uma trilogia de romance sobrenatural assente em território português, com uma estória facilmente reconhecível mas pautada por detalhes originais. Sem dúvida uma leitura confortável para os fãs do género, na qual acompanhamos os dramas da juventude com um toque de sobrenatural.
A protagonista, Marina, é uma personagem sólida, com características que aprecio grandemente: determinação, independência, coragem. No entanto, esta personalidade que me entusiasmou no início acaba por se diluir ao longo do livro, no modo como se rende totalmente a um rapaz que mal conhece, Lucas. Na verdade, durante grande parte do livro Marina contradiz-se constantemente: tanto afirma que não acredita no amor à primeira vista, apresentando argumentos lógicos e racionais, principalmente quando se refere a Joshua, apenas para depois ficar obcecada com Lucas, com quem apenas trocou algumas palavras. Este comportamento pareceu-me algo bizarro, desajustado para esta personagem, o que restringiu a sua evolução.
A sua relação com Joshua é também pouco realista e deixou-me um pouco incomodada. Não gostei da maneira como Marina dá constantemente falsas esperanças a Joshua, deixando arrastar uma situação que apenas acabará por magoá-lo. A meu ver, a sua personalidade não se coaduna com este tipo de atitude e um pouco de honestidade teria sido melhor. Joshua, por sua vez, pareceu-me uma personagem demasiado unidimensional. Demasiado perfeito, quer no aspeto, quer na personalidade, do qual pouco sabemos e cujo desenvolvimento em termos de carácter é praticamente inexistente ao longo da estória.
Em contrapartida, o outro vértice deste triângulo-amoroso, Lucas, representa muito bem o lado negro da trama. A sua importância na estória é gradual, o que potencia o suspense em relação à sua identidade sobrenatural. Apreciei bastante a inovação neste âmbito, pois a autora introduz alguns conceitos originais e, assim, produz uma mitologia interessante.
Quanto aos personagens secundários, poderiam ser mais desenvolvidos, em particular Ana. Esta tem um grande potencial para ter mais relevância no enredo, principalmente no ambiente humorístico que adiciona. Em relação aos restantes, há um pequeno pormenor que me deixou um pouco perturbada: os professores naquela escola parecem todos horríveis! É que não há um único docente compreensivo, responsável ou minimamente humano! Pareceu-me que os seus comportamentos são exagerados e pouco credíveis, e não gostei particularmente do papel de vítima que Marina adquire face a estes professores.
A narrativa é fluída, por vezes carecendo de alguma ação para dinamizar a estória, mas essencialmente muito acessível. A linguagem é apropriada para o público-alvo, com diálogos realistas para jovens e, ao mesmo tempo, sem ser demasiado infantil.
O aspeto que me fascinou foi a utilização de Alcácer do Sal como palco para todos os acontecimentos. Esta terra é fabulosamente descrita e proporcionou-me uma grande vontade de a visitar no futuro.
Infelizmente, o final acabou por me desiludir. A autora tomou o rumo mais previsível e pouco estimulante. Não deixou pontas soltas e, simultaneamente, deixou-me curiosa em relação ao rumo que a estória tomará no próximo volume. Gostaria que a autora não se refreasse de adicionar elementos mais dark e alguns twists à fórmula tradicional que utiliza.
Apesar de todas estas arestas por limar, a experiência global foi positiva. Uma leitura fácil e agradável, que merecia divergir um pouco do esquema tradicional em que se enquadra mas que, no fundo, recomendo sem reservas a quem aprecia o género.

2 comentários:

  1. Nunca li nenhuma obra desse género, simplesmente, porque nunca me cheguei a aventurar por esses caminhos. Talvez um dia acabe por me aventurar.
    Ass: Mistery

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    1. Olá Mistery :)

      É um género que aprecio, mas tenho que ler espaçadamente porque senão a utilização do mesmo esquema torna a leitura previsível e um pouco aborrecida!
      Se um dia resolveres aventurar-te no género, posso te dar boas sugestões para começar :)

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