"Relicário" de Douglas Preston & Lincoln Child [Opinião Literária]
Título: Relicário
Autores: Douglas
Preston & Lincoln Child
Editora: Saída de
Emergência
Coleção: Série
Pendergast (nº2)
Sinopse:
Nas
profundezas de Manhattan escondem-se túneis, esgotos e galerias esquecidas por
aqueles que caminham nas ruas da cidade. E na sua escuridão jazem adormecidos
segredos aterradores. Quando dois esqueletos grotescamente deformados são
encontrados na lama na costa de Manhattan, a antropologista Margo Green é
chamada para auxiliar na investigação. Numa parceria com o tenente de polícia
D´Agosta e o agente do FBI Pendergast, juntos tentam investigar e resolver o
enigma dos homicídios. Mas quando crimes brutais invadem a cidade e incitam a
população a tomar medidas drásticas, apenas a equipa de investigadores será
capaz de evitar uma catástrofe global. As pistas conduzem-nos aos subterrâneos
de Manhattan, onde irão descer ao inferno e enfrentar os piores pesadelos...
Opinião:
Douglas
Preston e Lincoln Child formam uma dupla imbatível no que concerne a construção
de um bom thriller, capaz de prender
o leitor até às últimas páginas! Este volume constitui a sequela direta de A Relíquia, dezoito meses após os
fatídicos acontecimentos numa noite de pesadelo no Museu de História Natural de
Nova Iorque. Rapidamente percebemos que a morte de Mbuwn, a terrível criatura
mortífera, não restabeleceu a paz na cidade. Pelo contrário, algo ainda mais
temível habita nas profundezas de Manhattan e tudo o que parecia bem explicado
no final do livro anterior não passa de um erro potencialmente fatal… Apesar de
destruir todos os princípios que tomamos como garantidos com o desenlace em A Relíquia, as novas informações são um
complemento à estória e permitem realmente perceber o que está por detrás
destes horríveis eventos. Aconselho, portanto, a leitura destas obras na
sequência correta.
As personagens
principais são praticamente as mesmas: Margo Green, Vincent D’Agosta, Aloysius
Pendergast. A empatia com as personagens foi, para mim, instantânea uma vez que
já havia uma ligação prévia. Contudo, foi interessante observar a forma como os
horrendos acontecimentos prévios afetaram estas personagens, Margo em particular.
Adorei a forma como se tornou mais destemida e determinada, mais interventiva
até, apesar das suas inseguranças e do terror que presenciou e que ainda a
atormenta.
Outro aspeto
positivo que destaco é a sustentação científica exímia que torna uma estória
com elementos algo sobrenaturais perfeitamente credível. Convém também
ressalvar que os autores exprimem estas explicações de uma forma sucinta, que considero
compreensível e adequado a alguém fora do ramo da Ciência.
Porém, a
melhor componente desta obra é sem dúvida a mensagem subjacente. Os autores
criam uma crítica irrepreensível à problemática dos sem-abrigo. Esta aventura
tem como cenário os túneis, galerias e esgotos sob Manhattan, um território habitado
por uma comunidade de homens, mulheres e mesmo crianças que vivem à margem da
sociedade. Uma comunidade ignorada pela sociedade, desprezada e tratada como
algo dispensável, praticamente como lixo. É interessante observar a resiliência
destes indivíduos, privados da interação com a sociedade, assim como a maneira
como esta prefere ignorar tudo até que o problema lhe é atirado à cara. No
final do livro, quando a violência contra os sem-abrigo se torna insustentável,
foi difícil lidar com o preconceito, a discriminação e o ódio que os autores
tão bem retratam. É uma excelente tentativa de consciencializar o leitor para
este problema tão atual.
Por fim,
falta salientar a capacidade dos autores em criar um enredo complexo, repleto
de reviravoltas surpreendentes, reveladas a um ritmo alucinante. Com momentos
de tensão verdadeiramente palpável, em que somos invadidos pelo terror da
situação, esta é uma leitura absolutamente viciante!
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