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terça-feira, 2 de abril de 2013

"Relicário" de Douglas Preston & Lincoln Child [Opinião Literária]

Título: Relicário
Autores: Douglas Preston & Lincoln Child
Editora: Saída de Emergência
Coleção: Série Pendergast (nº2)

Sinopse:
Nas profundezas de Manhattan escondem-se túneis, esgotos e galerias esquecidas por aqueles que caminham nas ruas da cidade. E na sua escuridão jazem adormecidos segredos aterradores. Quando dois esqueletos grotescamente deformados são encontrados na lama na costa de Manhattan, a antropologista Margo Green é chamada para auxiliar na investigação. Numa parceria com o tenente de polícia D´Agosta e o agente do FBI Pendergast, juntos tentam investigar e resolver o enigma dos homicídios. Mas quando crimes brutais invadem a cidade e incitam a população a tomar medidas drásticas, apenas a equipa de investigadores será capaz de evitar uma catástrofe global. As pistas conduzem-nos aos subterrâneos de Manhattan, onde irão descer ao inferno e enfrentar os piores pesadelos...

Opinião:
Douglas Preston e Lincoln Child formam uma dupla imbatível no que concerne a construção de um bom thriller, capaz de prender o leitor até às últimas páginas! Este volume constitui a sequela direta de A Relíquia, dezoito meses após os fatídicos acontecimentos numa noite de pesadelo no Museu de História Natural de Nova Iorque. Rapidamente percebemos que a morte de Mbuwn, a terrível criatura mortífera, não restabeleceu a paz na cidade. Pelo contrário, algo ainda mais temível habita nas profundezas de Manhattan e tudo o que parecia bem explicado no final do livro anterior não passa de um erro potencialmente fatal… Apesar de destruir todos os princípios que tomamos como garantidos com o desenlace em A Relíquia, as novas informações são um complemento à estória e permitem realmente perceber o que está por detrás destes horríveis eventos. Aconselho, portanto, a leitura destas obras na sequência correta.
As personagens principais são praticamente as mesmas: Margo Green, Vincent D’Agosta, Aloysius Pendergast. A empatia com as personagens foi, para mim, instantânea uma vez que já havia uma ligação prévia. Contudo, foi interessante observar a forma como os horrendos acontecimentos prévios afetaram estas personagens, Margo em particular. Adorei a forma como se tornou mais destemida e determinada, mais interventiva até, apesar das suas inseguranças e do terror que presenciou e que ainda a atormenta.
Outro aspeto positivo que destaco é a sustentação científica exímia que torna uma estória com elementos algo sobrenaturais perfeitamente credível. Convém também ressalvar que os autores exprimem estas explicações de uma forma sucinta, que considero compreensível e adequado a alguém fora do ramo da Ciência.
Porém, a melhor componente desta obra é sem dúvida a mensagem subjacente. Os autores criam uma crítica irrepreensível à problemática dos sem-abrigo. Esta aventura tem como cenário os túneis, galerias e esgotos sob Manhattan, um território habitado por uma comunidade de homens, mulheres e mesmo crianças que vivem à margem da sociedade. Uma comunidade ignorada pela sociedade, desprezada e tratada como algo dispensável, praticamente como lixo. É interessante observar a resiliência destes indivíduos, privados da interação com a sociedade, assim como a maneira como esta prefere ignorar tudo até que o problema lhe é atirado à cara. No final do livro, quando a violência contra os sem-abrigo se torna insustentável, foi difícil lidar com o preconceito, a discriminação e o ódio que os autores tão bem retratam. É uma excelente tentativa de consciencializar o leitor para este problema tão atual.
Por fim, falta salientar a capacidade dos autores em criar um enredo complexo, repleto de reviravoltas surpreendentes, reveladas a um ritmo alucinante. Com momentos de tensão verdadeiramente palpável, em que somos invadidos pelo terror da situação, esta é uma leitura absolutamente viciante!

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