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terça-feira, 25 de dezembro de 2012

"A Mão de Fátima" de Ildefonso Falcones [Opinião Literária]


Título: A Mão de Fátima
Autora: Ildefonso Falcones
Editora: Bertrand Editora

Sinopse:
Em 1568, nos vales e montes das Alpujarras, ouve-se o grito da rebelião: fartos de injustiças, saques e humilhações, os mouriscos enfrentam os cristãos e iniciam uma luta desigual que só poderia terminar com a sua derrota e consequente dispersão por todo o reino de Castela.
Entre os sublevados encontra-se o jovem Hernando. Filho de uma mourisca e do sacerdote que a violou, é repudiado pelos seus, devido à sua origem, e pelos cristãos, por força da cultura e dos costumes da sua família. Durante a insurreição conhece a brutalidade e crueldade de uns e de outros, mas também encontra o amor na figura da corajosa Fátima dos grandes olhos negros. Depois da derrota, obrigado a viver em Córdova e face às dificuldades da vida quotidiana, todas as suas forças se concentrarão em conseguir que a sua cultura e religião, as dos vencidos, recuperem a dignidade e o papel que merecem. Mas para isso deverá correr riscos…

Opinião:
Neste segundo romance de Ildefonso Falcones encontro mais uma vez a componente que me apaixonou na sua obra anterior: o rigor na caracterização histórica e o ambiente maravilhosamente detalhado. Ao longo da narrativa o leitor acompanha o quotidiano e as tradições muçulmanas, numa região dominada pela Cristandade. Apesar de, por vezes, se exceder nalgumas descrições e no ritmo lento da estória, o autor constrói um magnífico relato sobre o amor, o ódio, a vingança e a luta pelos ideais.  
Surge então uma personagem fascinante: Hernando Ruiz / Hamid Ibn Hamid, filho de uma muçulmana e de um pároco cristão, possuindo feições mouriscas mas traços cristãos. Por este motivo, é educado em ambas as religiões. E é esta ambiguidade no seu carácter que permite que o leitor acompanhe sempre a perspetiva de ambas as fés.
Contudo, também significa que Hernando esteja permanentemente dividido entre duas fações: lutando pela fé muçulmana enquanto finge ser cristão para passar impune perante a sociedade cordovesa. Mas Hernando rapidamente se apercebe que ambos os lados pretendem o mesmo: o poder sem limites. Em vez de seguirem os ensinamentos que proclamam, tanto os muçulmanos como os cristãos cometem atos bárbaros e sanguinários em nome da sua “fé” (ou, neste caso, das riquezas e do poder). Assim, Hernando passa a lutar, não pela imposição da fé muçulmana, mas sim pela convivência pacífica entre ambas as religiões.  
Este livro constitui uma crítica, pois, à ganância e à visão dogmática que a religião muitas vezes impõe. O autor expõe a inutilidade de lutar pela imposição de qualquer fé sobre outra, na medida em que apenas levará a mortes e perdas irreversíveis – e esta é uma lição que nunca deveria ser esquecida.

2 comentários:

  1. Já me disseram maravilhas deste livro. Tenho mesmo que o ler (e o "A Catedral do Mar" também)
    Beijinhos e Feliz Natal

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    1. Tens mesmo, são os dois muito bons :)
      Beijinhos e Feliz Natal!

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