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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A Thousand Frames: "The Hunger Games - Os Jogos da Fome"






Título: The Hunger Games – Os Jogos da Fome
Género: Aventura/Ficção Científica/Thriller
Realizador: Gary Ross
Adaptado de: Os Jogos da Fome de Suzanne Collins
Estreia: 22 de Março de 2012
Elenco: Jennifer Lawrence; Josh Hutcherson; Liam Hemsworth; Woody Harrelson; Elizabeth Banks; Lenny Kravitz; Stanley Tucci; Donald Sutherland





Esta adaptação do primeiro volume de uma saga de ficção científica young-adult não prometia ser de fácil execução. Na verdade, uma estória tão densa como a retratada em Os Jogos da Fome não é fácil de digerir enquanto leitora e parecia-me que dificilmente seria concebível transportá-la para o grande ecrã. Mas oh, como estava (felizmente) enganada!

Enredo:
Este filme captura perfeitamente a essência de uma sociedade distópica, uma ditadura assente no voyeurismo que usa o medo como arma para assegurar o seu poder. A interpretação desta mensagem é extremamente fiel ao livro, assim como a crítica ao potencial colapso das convenções morais inerente à valorização da reality TV como manipulação das massas.
O ritmo é avassalador, sem descurar a contextualização do público face à trama. Enquanto no livro a narrativa surge na primeira pessoa, o filme retrata os acontecimentos na arena d’Os Jogos da Fome como se estivesse a transmitir um verdadeiro jogo na televisão. Esta opção agradou-me substancialmente, pois permite que o público se torne também num participante indireto, quase como se fosse um espetador de um dos distritos em competição.  
Apesar de dirigida originalmente a um público juvenil, penso que esta conseguiu tornar-se numa adaptação muito madura e mais abrangente em relação ao seu alvo.

Cenários & Efeitos especiais:
Os cenários e efeitos especiais estão impecavelmente executados, com especial destaque para a representação do Capitólio, da arena e do distrito 12. Mais ainda, a banda sonora completa de forma pujante a narrativa, elevando a estória a outros níveis.



O guarda-roupa está brilhante e cumpre a sua função em permitir a distinção entre os distritos e as classes que compõem esta sociedade. A caracterização de Effie Trinket está genial, adorei as suas roupas espalhafatosas que trouxeram outra dimensão a esta personagem.




Elenco:

Confesso-me fã absoluta da atriz Jennifer Lawrence e não poderia deixar de destacar o desempenho estrondoso neste filme. Foi, para mim, a escolha perfeita para interpretar Katniss e conseguiu de uma forma brilhante transmitir a força e ao mesmo tempo a vulnerabilidade desta personagem.


Josh Hutcherson (Peeta) e Liam Hemsworth (Gale) foram, a meu ver, um pouco banais em comparação com a protagonista mas ainda assim estão impecáveis nos seus respetivos papéis.
Já Elizabeth Banks (Effie Trinket), Stanley Tucci (Caeser Flickerman) e Donald Sutherland (Presidente Snow) merecem sem dúvida um especial destaque pela vida que trouxeram a personagens secundárias nos livros e que ganham outra grandeza no filme.

Principais diferenças entre o filme e o livro:
Como já referi, esta é uma adaptação muito inteligente, na medida em que utilizou algumas modificações à estória original para potenciar toda a crítica ao voyeurismo que o livro encerra. Todas as maquinações e estratégias utilizadas pelos criadores d’os Jogos são retratadas ao longo do filme, dando mais ênfase ao processo que se desenrola no backstage. Esta mudança, apesar de significativa, foi bastante positiva na medida em que deu mais relevância ao papel do Presidente Snow e transmitiu a ideia de corrupção e crueldade do governo.
Outra alteração que para mim fez sentido foi a aceleração de algumas das mortes ao longo da estória. O livro é bastante sangrento e descreve em grande detalhe e por vezes com agoniante lentidão as mortes das crianças que participam n’Os Jogos e notei no filme o seu abreviamento. O exemplo mais notório é o final de Cato: enquanto no livro se passam várias horas antes de ser abatido por Katniss; no filme a sua morte é muito mais breve. Provavelmente para manter a classificação do filme como PG-13, percebo que o prolongamento destas mortes seria impensável, ainda que traria mais dramatismo e emoção à narrativa.
Ainda com o mesmo objetivo, creio que o realizador diluiu uma das revelações mais perversas e chocantes do livro: os cães gigantes e ferozes que surgem no final são na verdade versões mutantes e grotescas dos tributos que faleceram ao longo d’Os Jogos. A adaptação cinematográfica representa-os como meros monstros utilizados para eliminar os últimos concorrentes, sem explicar as suas origens ou identidades. 
Porém, houve um detalhe modificado logo no início do filme que me irritou solenemente. A origem do pin do mockinjay que a Katniss utiliza como símbolo durante os Jogos foi completamente alterada! No livro, é Madge, filha do governador do distrito 12, que oferece o pin à Katniss, enquanto que no filme é Katniss que o compra quase aleatoriamente. Existe uma motivação muito importante por detrás deste símbolo, cuja explicação é fornecida nos volumes seguintes da trilogia e que não percebo como será enquadrada nos próximos livros. É uma pena que não tenha sido tão explorado, na medida em que o pin acaba por representar um ataque subtil ao Capitólio e estabelece-se como o símbolo de uma revolução.
Relativamente à componente romântica, penso que o filme acabou por dar mais ênfase ao desenvolvimento do amor entre Peeta e Katniss do que o livro sugere. Na estória original, o ângulo romântico é utilizado como Katniss para ganhar a simpatia do público, baseando-se numa necessidade de sobrevivência. O filme traz-nos uma versão mais romântica, em que Katniss aparenta nutrir verdadeiros sentimentos por Peeta. O próprio final do filme acaba por perder o impacto dramático pois existe um momento no livro (e que não se encontra nesta adaptação) em que Peeta descobre que Katniss fingiu durante o tempo que estiveram na arena. Já agora, outro pequeno detalhe ausente do final do filme é a amputação de uma das pernas de Peeta, em virtude dos ferimentos que sofreu na arena. O desenlace final do filme desiludiu-me um pouco em relação ao original, mas suscita a curiosidade do espetador para a sequela.

No fundo, fiquei agradavelmente surpreendida com esta adaptação, muito fidedigna tanto em termos de conteúdo, como do ritmo da ação. O tom algo sombrio inerente a um possível futuro distópico encontra-se bem patente ao longo do filme e as metáforas políticas e filosóficas são transmitidas de uma forma coerente. Este filme foi, para além de uma excelente fonte de entretenimento, um impulsionador do pensamento e da reflexão. E não poderia ter pedido muito mais do que isto.   


Balanço final: 8/10

Trailer:

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