A Thousand Frames: "A Guerra dos Tronos" - 1ª Temporada
Género:
Fantasia épica; Drama
Criadores: David
Benioff & D. B. Weiss
Adaptado de: As Crónicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin [a
primeira temporada introduz personagens e eventos dos livros A Guerra dos Tronos, A Muralha de Gelo, A Fúria dos Reis]
Lançamento: 17
de Abril de 2011
Elenco:
Sean Bean; Mark Addy; Nikolaj Coster-Waldau; Michelle Farley; Lena Headey;
Emilia Clarke; Iain Glen; Aidan Gillen; Harry Lloyd; Kit Harington; Sophie
Turner; Maisie Williams; Richard Madden; Alfie Allen; Isaac Hempstead-Wright;
Jack Gleeson; Rory McCann; Peter Dinklage; Jason Momoa
A Guerra dos Tronos é uma série
de televisão que dispensa qualquer tipo de apresentações. Baseada na saga
literária As Crónicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, é uma das séries
mais vistas e comentadas na atualidade, foi considerada a série mais pirateada
no ano 2012(1) e encontra-se presentemente nomeada para 16 Emmys(2),
incluindo o prémio de Melhor Série Dramática. Apesar de muita tinta já ter
corrido sobre esta série, proponho-me a fazer uma análise da mesma, refletindo
acerca da primeira temporada, em termos de enredo, elenco e principais
diferenças entre a série e os livros que lhe deram origem.
Enredo:
A ação
inicia-se no reino de Westeros, um cenário medieval onde as estações podem
durar anos e o poder é algo incerto e desejado. Ao longo de 10 episódios
seguimos Eddard “Ned” Stark na sua demanda enquanto Mão do Rei Robert
Baratheon, enredando-se nas intrigas de um reino à beira do colapso. Por sua
vez, no continente de Essos, os jovens descendentes da Casa Targaryen planeiam
reaver o trono de Westeros, envolvendo-se com os Dothraki, um povo de
guerreiros temíveis. A Norte, os irmãos ajuramentados à Patrulha da Noite
defendem a Muralha, uma fortificação de gelo que protege o resto do reino dos
povos selvagens e, possivelmente, de uma ameaça que assinalará o final do Verão
e o início de um longo Inverno.
Dos livros
originais foi retirada não só a estória principal, mas também o ecossistema
político, social e filosófico bem delineado da narrativa e que é traduzido
brilhantemente para o ecrã. Tal como nas obras de Martin, também a série
levanta questões morais preponderantes: a luta pelo poder, o significado da
vida e da morte, a impossibilidade da honra, as consequências da ambição e a
estrutura de uma sociedade assente em bases precárias – questões estas que
nunca são verdadeiramente respondidas. Afinal, nenhuma destas questões
universais tem uma resposta definitiva e A
Guerra dos Tronos retrata a jornada de um grande número de personagens nas
suas tentativas de as descobrir conforme as suas circunstâncias. Por
conseguinte, nada é a preto e branco, a honra não é uma verdade universal e
poderá mesmo ser a origem do declínio de várias personagens.
Na verdade,
rapidamente todas as personagens se vêm predicamentos bastante sensíveis. Apesar
do elemento fantástico sempre omnipresente, esta é uma estória realista,
palpável, acerca de uma guerra pelo poder onde as personagens efetivamente ou
ganham, ou morrem. Isto é bem visível no penúltimo episódio, em que a série
tomou um rumo radical, ainda que perfeitamente expectável para os fãs dos
livros: a morte do seu “protagonista”. Numa sequência editada com uma beleza e
ao mesmo tempo horror inusitados – sem banda sonora, enquanto Ned olha pela
última vez para as suas duas filhas e aceita o seu destino – surge o ponto de
viragem da narrativa, onde são testados os limites neste universo brutal.
Correndo o risco de alienar a sua audiência, a série ainda assim mantém-se fiel
ao clima de instabilidade que os livros oferecem.
A primeira
temporada d’A Guerra dos Tronos foi
construída com mestria, aproveitando o que de melhor existe numa obra extensa e
complexa. É refrescante poder ver uma série como esta no panorama televisivo
atual, que não tem necessidade de “estupidificar” o público, mantendo uma
estória com profundidade e ainda assim adquirindo uma legião de fãs impressionante!
Elenco:
Para além do
magnífico conteúdo dos livros que os produtores tiveram à sua disposição, um
dos fatores que eleva esta série é sem dúvida o seu elenco. O meu entusiasmo
com esta série advém principalmente de ver todas as personagens que aprendi a
amar/odiar/tolerar a serem interpretadas tão bem!
Especialmente
no que toca aos atores mais novos. Ainda me custa a acreditar que para Emilia
Clarke (Daenerys Targaryen), Kit Harington (Jon Snow), Sophie Turner (Sansa
Stark), Isaac Hempstead-Wright (Bran Stark) e Maisie Williams (Arya Stark) estas
foram as suas estreias na televisão!
E não me
deixem começar a falar acerca do Peter Dinklage (Tyrion Lannister) senão é que
nunca mais me calo! Numa palavra: perfeição!
Principais
diferenças entre a série e os livros:
É difícil
numa temporada com apenas 10 episódios abarcar todos pormenores de dois livros
com a dimensão de A Guerra dos Tronos e
A Muralha de Gelo, sendo
compreensível a necessidade de diluir algumas cenas e alterar outras em favor
da narrativa geral. No entanto, apesar de por vezes trazerem algo de favorável
estas mudanças podem ser irritantes para os fãs mais acérrimos dos livros.
Em primeiro
lugar, as idades das personagens sofreram algumas alterações que, sendo esta
uma produção televisiva em grande escala, seriam inevitáveis. Os livros
retratam uma sociedade medieval sem qualquer conceito de adolescência. As
raparigas são consideradas aptas para casar assim que menstruam e muitas
personagens têm relações sexuais em tenra idade. No entanto, devido às leis de
produção europeias, certas cenas, principalmente as relacionadas com Daenerys
Targaryen (com 13 anos no primeiro livro) seriam impossíveis de retratar na
televisão.(3) Por conseguinte, as personagens mais novas foram
envelhecidas cerca de 2/3 anos para se adequarem aos padrões legais. Honestamente
fico grata por não ter de assistir ao casamento de Khal Drogo com uma Daenerys
de 13 anos. No fundo, foi uma alteração apropriada e perfeitamente
compreensível.
Um dos
aspetos que permanece muito vago e pouco aprofundado é a história de Westeros,
a Rebelião de Robert Baratheon e os eventos que originaram a usurpação do trono
aos Targaryen. Claro que é difícil transparecer no ecrã os pensamentos,
sentimentos e memórias das personagens, tão facilmente descritos nos livros.
Contudo, seria interessante que pelo menos os sonhos de Eddard sobre a irmã e
os eventos da Rebelião de Robert fossem mais explorados, em particular a
conexão entre dois personagens já falecidos dos quais dificilmente o público
terá uma noção muito clara apenas pela série.
Já falei do
que falta na série, agora vou abordar o que está em excesso. Não que as obras
de Martin sejam propriamente púdicas, aliás existem inúmeras cenas explícitas,
mas a série incorpora cenas de nudez que por vezes parecem despropositadas. Um
dos exemplos mais claros será Ros, uma personagem que nem sequer existe nos
livros e parece servir apenas para ouvir os monólogos das personagens
masculinas. Pessoalmente até aprecio a personagem e a interpretação da atriz, acabando
por servir como uma condensação das inúmeras prostitutas nomeadas nos livros,
mas por vezes penso que existiriam outras maneiras de expor esta informação sem
recorrer à vertente sexual.
Falando em
aspetos inexistentes nos livros, a relação entre Renly Baratheon e Loras Tyrell
é apenas subtilmente indiciada nos livros, ao contrário da série onde é
bastante explícita. Esta alteração até me agradou bastante, pois deu mais
destaque a eventos que apenas acontecem fora da ação principal do livro.
Um aspeto
visual cuja ausência na série me incomodou no início foi uma das
características principais dos herdeiros da Casa Targaryen. Estes, nos livros,
são caracterizados como tendo olhos roxos/púrpura/violeta, o que não
corresponde de todo à caracterização na série. Os produtores introduzirem a
utilização de lentes de contacto no início das filmagens mas acabaram por
desistir porque interferiam com as performances dos atores. A falta deste traço
identificativo dos Targaryen poderá ter algumas implicações para o
reconhecimento de certas personagens mais à frente na estória mas poderá ser
contornado de alguma forma.
Mas nem todas as alterações visuais nas personagens podem ser más! A Osha da série é substancialmente diferente da Osha nos livros, sendo protagonizada pela atriz Natalia Tena não apenas mais nova, mas mais energética e sarcástica. Curiosamente, George R. R. Martin gostou tanto desta abordagem que afirmou que poderá considerar alterar a apresentação desta personagem nos próximos livros para se assemelhar à sua versão televisiva.(4)
Também
outras personagens secundárias sofreram algumas alterações. Shae, a prostituta
envolvida com Tyrion, adquire um novo passado na série: em vez de ser uma
simples prostituta de Westeros como nos livros, na série é retratada como
proveniente das Cidades Livres, de forma a explicar o sotaque estrangeiro da
atriz Sibel Kekilli, que nasceu na Turquia e viveu na Alemanha.(4) Por outro lado, a ausência da personagem Mya Stone,
uma dos muitos descendentes bastardos do Rei Robert, que acompanha Catelyn
Stark na subida ao Ninho da Águia (que por sua vez é retratado de uma forma
diferente na série do que é nos livros). Não que esta personagem seja
particularmente importante (pelo menos para já) mas gosto da sua personalidade
e das interações que vai tendo com algumas personagens principais nos livros.
No fundo,
seria impossível criar uma série televisiva com tantos detalhes; aspetos como flashbacks, personagens e estórias
secundárias têm de ser diluídas ou mesmo eliminadas para compensar a narrativa
principal. Mas A Guerra dos Tronos mantém-se
bastante fiel ao seu conteúdo original, e isso, associado ao elenco sublime,
torna esta série uma verdadeira delícia para os fãs!
Balanço final: 9/10
Fontes:
só há pouco tempo é que comecei a ver a série e ainda vou a meio da primeira temporada mas do que vi concordo contigo em algumas das questões que mencionaste, nomeadamente a questão das idades.
ResponderEliminarBoa review da temporada :)
Obrigada :)
EliminarSim, a questão das idades foi uma alteração sensata e compreensível. Espero que continues a seguir a série, vale a pena ;)
Vou continuar, sim senhora ;) queria era conseguir ler os livros antes de cada uma das temporadas. Espero conseguir ;)
EliminarBjs
Ainda falta muito para a 4ª temporada por isso acho que consegues na boa :)
EliminarBjs
Acho excelente esta nova rubrica! :D
ResponderEliminarRecebi o primeiro livro desta Saga no meu aniversário e foi dos que mais quis ler este ano, mas tinha muitos em lista de espera, pelo que ainda não o li!
Mal leia tenho de ver a série! *-*
Ai tens que ler, mas prepara-te para ficares viciada xD
EliminarAtenção que a 1ª temporada da série corresponde ao 1º e 2º livro em PT por isso lê os 2 antes de veres se não quiseres spoilers :)
E tem alguns pormenores do 3º livro também...
EliminarAhah! Sim, acho que quando começar não vou conseguir parar de tão viciada que vou ficar!! *-*
EliminarAh, não sabia! Obrigada pela informação! A série vai ter de esperar um bocadinho! :P
Beijinhos! *