A Thousand Frames: "The Hunger Games - Os Jogos da Fome"
Título: The Hunger Games – Os Jogos da Fome
Género: Aventura/Ficção
Científica/Thriller
Realizador: Gary Ross
Estreia: 22 de Março de 2012
Elenco: Jennifer Lawrence; Josh
Hutcherson; Liam Hemsworth; Woody Harrelson; Elizabeth Banks; Lenny Kravitz; Stanley Tucci; Donald Sutherland
Esta
adaptação do primeiro volume de uma saga de ficção científica young-adult não prometia ser de fácil execução.
Na verdade, uma estória tão densa como a retratada em Os Jogos da Fome não é fácil de digerir enquanto leitora e
parecia-me que dificilmente seria concebível transportá-la para o grande ecrã.
Mas oh, como estava (felizmente) enganada!
Enredo:
Este filme
captura perfeitamente a essência de uma sociedade distópica, uma ditadura
assente no voyeurismo que usa o medo como arma para assegurar o seu poder. A
interpretação desta mensagem é extremamente fiel ao livro, assim como a crítica
ao potencial colapso das convenções morais inerente à valorização da reality TV como manipulação das massas.
O ritmo é
avassalador, sem descurar a contextualização do público face à trama. Enquanto
no livro a narrativa surge na primeira pessoa, o filme retrata os
acontecimentos na arena d’Os Jogos da Fome como se estivesse a transmitir um
verdadeiro jogo na televisão. Esta opção agradou-me substancialmente, pois
permite que o público se torne também num participante indireto, quase como se
fosse um espetador de um dos distritos em competição.
Apesar de
dirigida originalmente a um público juvenil, penso que esta conseguiu tornar-se
numa adaptação muito madura e mais abrangente em relação ao seu alvo.
Cenários & Efeitos especiais:
Os cenários e
efeitos especiais estão impecavelmente executados, com especial destaque para a
representação do Capitólio, da arena e do distrito 12. Mais ainda, a banda
sonora completa de forma pujante a narrativa, elevando a estória a outros
níveis.
O guarda-roupa está brilhante e cumpre a sua função em permitir a distinção entre os distritos e as classes que compõem esta sociedade. A caracterização de Effie Trinket está genial, adorei as suas roupas espalhafatosas que trouxeram outra dimensão a esta personagem.
Elenco:
Confesso-me fã absoluta da atriz Jennifer Lawrence e não poderia deixar de destacar o desempenho estrondoso neste filme. Foi, para mim, a escolha perfeita para interpretar Katniss e conseguiu de uma forma brilhante transmitir a força e ao mesmo tempo a vulnerabilidade desta personagem.
Josh
Hutcherson (Peeta) e Liam Hemsworth (Gale) foram, a meu ver, um pouco banais em
comparação com a protagonista mas ainda assim estão impecáveis nos seus
respetivos papéis.
Já Elizabeth
Banks (Effie Trinket), Stanley Tucci (Caeser Flickerman) e Donald Sutherland
(Presidente Snow) merecem sem dúvida um especial destaque pela vida que
trouxeram a personagens secundárias nos livros e que ganham outra grandeza no
filme.
Principais diferenças entre o filme e o
livro:
Como já
referi, esta é uma adaptação muito inteligente, na medida em que utilizou algumas
modificações à estória original para potenciar toda a crítica ao voyeurismo que o livro encerra. Todas as
maquinações e estratégias utilizadas pelos criadores d’os Jogos são retratadas
ao longo do filme, dando mais ênfase ao processo que se desenrola no backstage. Esta mudança, apesar de
significativa, foi bastante positiva na medida em que deu mais relevância ao
papel do Presidente Snow e transmitiu a ideia de corrupção e crueldade do
governo.
Outra alteração
que para mim fez sentido foi a aceleração de algumas das mortes ao longo da
estória. O livro é bastante sangrento e descreve em grande detalhe e por vezes
com agoniante lentidão as mortes das crianças que participam n’Os Jogos e notei
no filme o seu abreviamento. O exemplo mais notório é o final de Cato: enquanto
no livro se passam várias horas antes de ser abatido por Katniss; no filme a
sua morte é muito mais breve. Provavelmente para manter a classificação do
filme como PG-13, percebo que o prolongamento destas mortes seria impensável,
ainda que traria mais dramatismo e emoção à narrativa.
Ainda com o
mesmo objetivo, creio que o realizador diluiu uma das revelações mais perversas
e chocantes do livro: os cães gigantes e ferozes que surgem no final são na
verdade versões mutantes e grotescas dos tributos que faleceram ao longo d’Os
Jogos. A adaptação cinematográfica representa-os como meros monstros utilizados
para eliminar os últimos concorrentes, sem explicar as suas origens ou
identidades.
Porém, houve
um detalhe modificado logo no início do filme que me irritou solenemente. A
origem do pin do mockinjay que a Katniss utiliza como símbolo durante os Jogos
foi completamente alterada! No livro, é Madge, filha do governador do distrito
12, que oferece o pin à Katniss, enquanto que no filme é Katniss que o compra
quase aleatoriamente. Existe uma motivação muito importante por detrás deste
símbolo, cuja explicação é fornecida nos volumes seguintes da trilogia e que
não percebo como será enquadrada nos próximos livros. É uma pena que não tenha
sido tão explorado, na medida em que o pin acaba por representar um ataque
subtil ao Capitólio e estabelece-se como o símbolo de uma revolução.
Relativamente
à componente romântica, penso que o filme acabou por dar mais ênfase ao
desenvolvimento do amor entre Peeta e Katniss do que o livro sugere. Na estória
original, o ângulo romântico é utilizado como Katniss para ganhar a simpatia do
público, baseando-se numa necessidade de sobrevivência. O filme traz-nos uma versão
mais romântica, em que Katniss aparenta nutrir verdadeiros sentimentos por
Peeta. O próprio final do filme acaba por perder o impacto dramático pois existe
um momento no livro (e que não se encontra nesta adaptação) em que Peeta
descobre que Katniss fingiu durante o tempo que estiveram na arena. Já agora,
outro pequeno detalhe ausente do final do filme é a amputação de uma das pernas
de Peeta, em virtude dos ferimentos que sofreu na arena. O desenlace final do
filme desiludiu-me um pouco em relação ao original, mas suscita a curiosidade
do espetador para a sequela.
No fundo,
fiquei agradavelmente surpreendida com esta adaptação, muito fidedigna tanto em
termos de conteúdo, como do ritmo da ação. O tom algo sombrio inerente a um
possível futuro distópico encontra-se bem patente ao longo do filme e as
metáforas políticas e filosóficas são transmitidas de uma forma coerente. Este
filme foi, para além de uma excelente fonte de entretenimento, um impulsionador
do pensamento e da reflexão. E não poderia ter pedido muito mais do que isto.
Balanço final: 8/10
Trailer:
Venha o Catching Fire! *________*
ResponderEliminarMal posso esperar!! *.*
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