"Admirável Mundo Novo" de Aldous Huxley [Opinião Literária]
Título: Admirável
Mundo Novo
Autor: Aldous Huxley
Editora: Antígona
Sinopse:
A famosa distopia de Aldous Huxley sobre uma sociedade totalitária do
futuro, regida pela tecnologia e pelo materialismo e sob a máscara da
democracia e da felicidade.
“Admirável Mundo Novo" é uma parábola fantástica sobre a
desumanização dos seres humanos. Na utopia negativa descrita no livro, o Homem
foi subjugado pelas suas invenções. A ciência, a tecnologia e a organização
social deixaram de estar ao serviço do Homem; tornaram-se os seus amos. Desde a
publicação deste livro, o mundo rumou a passos tão largos na direcção errada
que, se eu escrevesse hoje a mesma obra, a acção não distaria seiscentos anos
do presente, mas somente duzentos. O preço da liberdade, e até da simples
humanidade, é a vigilância eterna.
Opinião:
Este clássico distópico retrata uma sociedade futura onde o progresso
científico tomou as rédeas da civilização e já nada se assemelha ao que
conhecemos hoje em dia. O ser humano é criado em instalações científicas e condicionado
biológica e psicologicamente desde o seu primeiro momento de vida para
cumprirem uma determinada função. A hierarquia social subsiste através de um
sistema rígido de castas, com características bem definidas que são implantadas
e recalcadas nos indivíduos desde cedo. Desde manipulações químicas e genéticas
nos embriões, à própria utilização de mensagens subliminares durante o sono das
crianças, o governo assegura assim a existência de mão-de-obra compatível com
cada função e assume o seu poder como uma verdade inquestionável.
Elimina-se o amor em detrimento da desinibição sexual, a monogamia dá
lugar à poligamia e o conceito de família dissolve-se na busca incessante pela
satisfação das necessidades fisiológicas do ser humano. Eliminam-se os valores
morais e religiosos, encoraja-se a procura de entretenimento em atividades
recreativas e assegura-se a felicidade inconsciente através da toma diária de uma
droga. E, consequentemente, eliminam-se também quaisquer fontes de emoções,
consideradas inúteis e aberrantes.
É este o arquétipo social ideal que a obra apresenta: não existe qualquer
sentimento de injustiça social, não há conflitos ou reivindicações, o povo vive
feliz e contente por fazer parte de uma máquina bem oleada, sem questionar a
sua existência. Aliás, como poderiam reclamar quando foram programados para
desejar esta mesma vida e nada mais?
Não é esta uma perspetiva assustadora? A ideia que podemos ser tão
facilmente manipulados para nos submetermos a ideais pré-concebidos e regermos
as nossas vidas segundo as convenções sociais. Mas não é precisamente isto que
acontece já nos dias de hoje? Não somos nós bombardeados constantemente pelos
media com imagens e mensagens subliminares acerca do que devemos comprar,
vestir, comer, usar, fazer? Será que as nossas vidas são assim tão livres de
influências externas como pensamos?
Apesar de pura ficção, não posso deixar de considerar este livro como
uma visão profética. Mal posso acreditar que foi escrito em 1931! É
assustadoramente atual e não augura nada de bom para o futuro da humanidade. No
fundo, Aldous Huxley formula um aviso, um apelo à humanidade para se acautelar
diante das consequências nefastas de um “progresso” científico levado ao
extremo.
Uma das poucas desilusões nesta obra foi o leque de personagens
apresentadas. Não consegui estabelecer empatia com nenhuma, faltou algo na
caracterização e acabei por me desligar um pouco das personagens para me
concentrar no desenvolvimento da ação. Na minha opinião, as personagens aqui são
meros veículos para transmitir ideias, utilizadas como peões nas jogadas
brilhantes que o autor executa com este enredo intemporal.
O próprio final foi um dissabor. Senti falta de algo mais pujante, mas este
é provavelmente o desenlace que se coaduna realmente com a verdadeira natureza
da humanidade. Esta é sem dúvida uma obra impressionante, que se mantém muito relevante
na atualidade. Afinal, talvez não falte assim tanto para chegarmos a este Admirável Mundo Novo!
Todas as obras que li até agora deste género (distópico) têm qualquer coisa, lá está, de profético. Acho que estes autores compreenderam que a humanidade só pode piorar...É assustador.
ResponderEliminarPrecisamente. Acabei de ler este livro e fiquei literalmente arrepiada!
EliminarFiquei muito impressionada com a review que fizeste do livro! ;) fiquei bem curiosa para o ler!
ResponderEliminarAinda bem, vale a pena! :)
EliminarAqui está um clássico que ainda não li mas que não vai falar no próximo ano. Adorei ler a tua review, acho que vou gostar bastante do livro. Beijos
ResponderEliminarObrigada, também acho que será um livro que certamente gostarás! Apela bastante à reflexão, é ligeiramente perturbador mas é de leitura obrigatória, sem dúvida!
EliminarBeijinhos*
É um livro que quero muito ler..
ResponderEliminarAdorei a opinião e fiquei com mais curiosidade de ler o livro..
beijinhos*
Obrigada! Lê, é qualquer coisa de especial :)
EliminarBeijinhos*