"Um Cappuccino Vermelho" de Joel G. Gomes [Opinião Literária]
Título: Um
Cappuccino Vermelho
Autor: Joel G. Gomes
Editora: Edição de autor
Sinopse:
As pessoas que conhecem Ricardo Neves dividem-se em dois grupos: os que
o conhecem como autor de policiais e os que o conhecem como assassino
profissional.
Ricardo sempre cuidou para que estas duas facetas da sua vida não
misturassem. Tudo se complica quando recebe uma lista de alvos demasiado
próximos do seu mundo de escritor. A colisão torna-se inevitável e Ricardo não
tem como a impedir.
João Martins é um escritor com prazos para cumprir e sem ideias para desenvolver. Até que tem a ideia de escrever sobre um escritor que é também assassino profissional.
A surpresa acontece quando pessoas à sua volta começam a morrer tal e
qual ele descreve no seu livro. A dúvida surge de imediato: estarão as mortes a
acontecer porque ele as escreve ou será ele um mero narrador de eventos
predestinados a acontecer?
Opinião:
Esta é uma estória com uma premissa interessante, apesar de não ser
propriamente original. Apreciei a estrutura bastante dinâmica, em que a intriga
encerra várias dimensões, umas dentro das outras. O autor explora isto de uma
maneira complexa e intrigante, podendo ser algo confuso.
Neste contexto, existe uma constante alternância de perspetivas bastante
distintas. Por um lado surge Ricardo, um assassino impiedoso, frio, arrogante e
egocêntrico, que valoriza o seu trabalho acima de tudo. Por outro lado, temos
João, um escritor dedicado à sua arte, cuja sanidade começa a ser questionada
quando aquilo que escreve se torna realidade. Ambos são personagens credíveis e
interessantes, ainda que por vezes as tenha sentido um pouco unidimensionais.
O escritor retrata bem as idiossincrasias do quotidiano português,
apesar de carecer nas descrições do mundo que rodeia estas personagens.
Acredito que com a adição de mais pormenores acerca do ambiente seria possível
consolidar toda a ação e situar melhor o leitor. Pelo contrário, as descrições
exaustivas de certas rotinas (a história do café, as refeições de Ricardo) são
dispensáveis. Estas passagens necessitavam de um ritmo mais rápido, enquanto as
cenas de ação e os homicídios beneficiariam de uma maior descrição e detalhes
para potenciar a emoção e o suspense.
A escrita, por sua vez, é bastante simples e acessível, algo
cinematográfica e sem floreados ou subterfúgios. Gostei deste aspeto, desta
escrita direta e crua que torna a estória bem mais sombria. No fundo, foi uma
leitura bastante fluída, aprazível mas que carece alguns pontos-chave para se
tornar memorável.
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