"Chocolate" de Joanne Harris [Opinião Literária]
Título: Chocolate
Autora: Joanne
Harris
Editora: Edições Asa
Coleção: Trilogia Chocolate
(nº1)
Sinopse:
A aldeia de
Lansquenet-sur-Tannes tem duas novas moradores: Vianne Rocher, jovem mãe
solteira, e a sua filha Anouk. Ambas correram mundo e querem agora
estabelecer-se, pelo que Vianne pensa montar um negócio. Um negócio aromático e
guloso mas, naquelas paragens, pouco comum: uma chocolataria com o nome de
"La Céleste Praline".
Para a
aldeia, "La Céleste Praline" e a sua encantadora proprietária são um
sopro de ar fresco frente à tirania de Francis Reynaud, um jovem padre de uma
austeridade a raiar o fanatismo, que não oculta o seu desagrado por um comércio
demasiado sofisticado e "tentador", e que vê em Vianne um desafio à
sua autoridade. Frente a ele, a jovem Vianne só pode apelar à alegria de viver
das gentes de Lansquenet...
Chocolate é um repertório de sabores,
descritos de uma maneira tão viva que quase se sentem; é também uma galeria de
personagens ternos e cruéis, amáveis e odiosos, sempre intensos e credíveis.
Mas é sobretudo um romance tão ameno, tão rico e variado, que deixará nos seus
leitores uma impressão imorredoira.
Opinião:
Este é um
romance que merece ser saboreado, uma vívida estimulação para todos os sentidos
do leitor. Uma estória rica em gastronomia, intriga e espiritualidade, que
suscitará uma reflexões profundas sobre a condição humana.
As
personagens constituem um conjunto eclético de personalidades, uma caricatura
vibrante de uma pequena comunidade. Vianne é uma protagonista forte, com
crenças bem assentes e um carácter determinado. Sem dúvida a força motriz que
dirige a evolução das restantes personagens, Vianne é uma mulher que sabe atingir
o âmago das pessoas. A sua relação com a filha, Anouk, é simplesmente enternecedora,
enquanto se debate com as saudades da sua falecida mãe e, paralelamente, com o
ressentimento pela vida nómada que lhe foi imposta. Assim surge uma questão
interessante sobre a essência da condição humana: o que será mais importante?
Uma multitude de experiências, lugares, relações com inúmeras pessoas, em
detrimento de uma existência constante? Ou finalmente assentar e aprofundar
estas relações?
De igual
modo, esta obra aborda a temática da religião versus espiritualidade, estabelecendo
um contraste entre o fanatismo tirano do padre Francis Reynaud e os ideais
esotéricos de Vianne. Francis é uma personagem odiosa, terrivelmente obtuso, um
homem que, algo inconscientemente, prefere pregar o ódio em vez do amor pelo
próximo.
Porém, o
ponto forte da narrativa consiste nas descrições dos alimentos, dos doces em
particular, que são absolutamente deliciosas. Um aviso ao leitor: prepare-se
para ser acometido por desejos irreversíveis dos doces mais improváveis,
repletos de especiarias exóticas e ingredientes extravagantes. A narrativa é
fluída, impregnada pelos cheiros e sabores de todas estas iguarias.
No entanto,
no final da leitura senti-me algo desiludida, senti um vazio perante algumas
pontas soltas e questões em aberto que a autora despachou sem grandes
conclusões. Algumas personagens poderiam ter sido mais exploradas, enquanto
alguns pontos da estória mereciam ser mais desenvolvidos. Por conseguinte,
creio que lhe faltou algo para se tornar uma leitura verdadeiramente marcante,
ainda que possua uma magia inegável.
Essas pontas que ficam soltas são retomadas no volume seguinte (Sapatos de Rebuçado)...Eu até gostei dessa falta de uma conclusão, acho que condiz com a personagem principal...Mas o ponto alto é mesmo o chocolate, ele próprio...Sempre que leio este livro fico cá com uma fome :)
ResponderEliminarcumps
Eu fiquei com uma sensação de que faltava qualquer coisa... A verdade é que no próximo mês vou ler o "Sapatos de Rebuçado" por isso finalmente vou ter as respostas que queria :)
EliminarAi o chocolate...lá se foi a minha linha! xD